A ALBARDA DO POVO
Muitos são os que pensam que mudando o regime ou partido, que pontifica na capital, a situação melhora, olvidando que o povo terá sempre que obedecer.
Neste mundo, uns nasceram para servir, outros para serem servidos; uns para obedecer, outros para mandar. Os homens não são todos iguais, ainda que se afirme o contrario. A diferença começa no local e na família em que se nasce, das oportunidades surgidas, e capacidade intelectual de cada um.
Tive professor – que detestava, – que a propósito de tudo e de nada, dizia que estávamos numa ditadura intelectual: o mais inteligente e capaz, escraviza o fraco e o menos abonado de intelecto.
Embora a forma como proferia, fosse-me desagradável, não deixava de lhe dar razão: a elite, constituída, em regra, pelos que tiveram mais formação e oportunidades, não se cansa de cercear direitos aos que a servem, ou seja: o povo.
Certa ocasião Fedro contou a seguinte fábula, que ilustra, e bem, o que venho escrevendo:
Um pobre pastor regressava a casa com o burrito, quando escuta ruído de armas e passos de soldados. Receoso de ser espoliado, vira-se para o jumento e ordena:
- Mexe-te! Corre!, se não os soldados podem levar-te para carregares armas ou mantimentos!
Muito pachorrentamente o jerico volta-se para o dono e exclama desolado:
- E a mim que me importa!? Se minha sina é usar sempre albarda!?
Como o jumento, o trabalhador braçal, o operário, o empregado, que não possua amigos poderosos, não tem outro remédio, senão andar de albarda, servindo sempre a elite, que se impôs pela inteligência ou pela força. Disso ninguém o livra.
O único meio a seu alcance é mudar de albarda. Pode ser simples ou enfeitada, mas é sempre albarda. Mas ainda há quem ingenuamente pense o contrário.