Crônicas da Amendoeira: Todas as mães
Crônicas da Amendoeira: Nossas Mães
Mãe é mãe! Esse axioma é o que eterniza o cordão e nos garante o retorno ao útero sempre que a dor nos assalta e nos deixa indefesos. Ah, o amor monolítico das mães! Sempre tão tácito e certo! Aquele amor que transborda mesmo em córrego seco! Mãe é mãe em toda a sua intransitividade. Amor que não cobra nem pede, por ser completo desde a concepção. É ela que nos borda fio a fio para que o mundo nos pareça leve. É como se pedisse – e pede – que todo o nosso peso recaia sobre as suas costas. Masoquista, exige para si todos os nossos sofrimentos e aflições. Não é à toa que “mãe” seja o primeiro vocábulo em nosso dicionário particular. Falássemos na pia e o seu nome seria evocado como num cântico de anjos.
Mãe é grito de socorro quando todas as opções resultam inúteis, mas ainda precisamos chorar para que os inevitáveis diques da dor não desmoronem como castelos de areia. Mãe é colírio em olhos com ciscos. E somos nós, os filhos, esses ciscos que não lhe nublam a vista.
Mãe é mão e perna e braço e corpo inteiro quando estamos partidos. Mãe é a paciência de ser só ouvidos quando estamos surdos. Mãe é quase um absurdo quando a vida já não é o bastante. E quando basta, ela acredita que ainda podemos reinventa-la. Mãe é quase senzala, mas também casa grande. Mãe é um gigante, de cujo ombro podemos ver adiante, ainda que sejamos míopes.
Aldo Guerra