COISAS DE MÃE

Ainda ontem ele andava pendurado em mim pelo canguru. Passeava com ele na Redenção, no Gasômetro, no Parque da Marinha e por todas as ruas de Porto Alegre. As pessoas diziam: - que bebê bonito, que bebê feliz! Ele sempre presenteava todos que lhe faziam gracinha, com um sorriso desdentado entre as bochechas rosadas. Fofo e alegre, o meu bebê era único, como cada um é para sua mãe.

Hoje, com treze anos e quase um metro e oitenta de altura, calçando quarenta e andando com as próprias pernas, embora meio desengonçado pela coordenação motora atrapalhada com os hormônios do crescimento. As bochechas ainda ficam rosadas, mas agora é pela timidez da adolescência. Pede-me que não o apanhe no colégio, é ‘mico’ diante dos colegas. Foge do meu abraço em público, é ‘vergonha’ perante a turma. Enfim, os pais, nesta idade, tornam-se ‘uns chatos’ e pelo que se ouve de outras mães, o conceito é generalizado, mudando apenas de endereço. Se a gente demonstra muito apego é porque ainda os trata como crianças e eles, definitivamente, ‘não são mais crianças’. Mas se os deixamos de lado é porque ‘não os amamos o suficiente’. Às vezes nem sabemos mais como agir. A onipotência nesta idade é assustadora. Parece que sabem tudo. Aliás, a adolescência é a única idade em que se sabe tudo. Ninguém sabe mais que eles, os imbatíveis adolescentes, e muito menos os ultrapassados e ‘velhos pais’.

Frequentemente olho as fotos do meu bebê. Uma vontade de voltar no tempo, dar colo, abraçar, afagar o cabelo, pendurar no canguru. Rasga-me a alma, vê-lo sofrer pela menina que gosta, mas que ‘ficou’ com o outro colega; ou chateado diante do espelho, achando-se ‘horrível’ por causa das espinhas. Mas não posso viver as dores dele. São as experiências, boas ou ruins, que vão lhe ensinando amadurecer. A vida não vai poupá-lo e eu, como mãe, também não posso. Resigno-me a ouvir suas dores, confortar com palavras, mostrar que a dor faz parte do crescimento.

Só nós, mães, sabemos como é longo este caminho. Começa na barriga e se arrasta pela vida afora. Se tivermos sorte de envelhecer, teremos os netos e bisnetos para reviver a infância dos nossos filhos. É um amor que se estende até a eternidade, um velar sem fim.