As Mães de Nossa Mãe
 
Durante muito tempo pude acompanhar a trajetória humana e perfeita da mulher mais incrível com quem conviví ... a minha mãe, Maria Isabel.
Enquanto lúcida, nunca ouvi de seus lábios palavras de desordem ou sentimentos odiosos que pudessem criar revolta.
Não tinha desafetos ... quaisquer que fossem, ela os transformava em admiradores.
Situações mais intempestivas devem ser imputadas às dores implacáveis e às múltiplas mazelas que a perseguiram nos últimos anos.
Guiado pelas suas mãos, ela me fez entender os caprichos que a vida me reservaria, com seus segredos mais escondidos. Ela, com paciência, sempre contava todos eles, por um instinto materno de proteção.
Pequeno, agarrado em suas saias, absolutamente frágil, recebia conselhos e ensinamentos de alguém que era muito mais que um gigante em amor, humanidade e carinho.
Àquela época vivíamos modestamente mas, extremamente felizes e sempre atentos às intermináveis estórias que ela trazia em sua maravilhosa mente e que, com brilho nos olhos, tinha prazer de nos contar.
Mas, agora ela se foi e sinto que pedaços da minha alma foram arrancados e partiram com ela.
Começo a entender que realmente Deus colocou à nossa volta um anjo maravilhoso que, durante longos anos, se tornou um presente Divino, muito maior do que poderia supor nossa compreensão.
Ficamos sem ela e não imagino como será daqui prá frente. Sabemos que tudo na vida é cíclico e todas as coisas acontecem para nossa mais íntima experiência ... mas, lembrando todas as fases que vivemos com ela, num traçado pessoal que durou mais de 50 anos, não consigo entender como tudo agora será e o que mais Deus poderá nos reservar.
Ficamos sem o nosso anjo protetor.
Mas, além dessas palavras, gostaria de dizer da admiração que sinto por aquelas que, durante um longo tempo, se tornaram as mães da nossa mãe : nossas irmãs ... Bebel e Jussara.
Ambas abraçaram, com infinita paciência, chamaram e repartiram entre si, todo o sacrifício físico e dificuldades que nossa querida mãezinha teve que enfrentar.
Um caminho árduo e penoso, com requintes de desafios raros que só Deus, com sua incomensurável grandeza, poderá recompensar.
Deus, concedeu-lhes a graça especial de poderem cuidar, mais de perto, de um de Seus anjos mais queridos.
Em todos os momentos, não mediram esforços e se envolveram, frenéticamente, nas correrias atrás de médicos, clínicas, hospitais e um milhão de exames, a que, o tempo todo, ela necessitava se submeter.
Nas noites, um envolvimento de amor, velando, exalando ternura e carinho, sempre no intuito de amenizar-lhe as dificuldades que o próprio corpo lhe impunha, tantas vezes.
Nos seus últimos momentos, visitando-a na UTI do Hospital onde estava, pude constatar o elo de ligação que havia entre as três.
Ela dizia para as duas, separadamente : - “ mãezinha ... me tira daqui ”, num lamento doído que nos enchia os olhos de lágrimas. Ela sentia que estaria nos deixando em breve mas, também não queria aceitar a separação.
Devemos agradecer a tantos e tantos que conviveram e entenderam como ela era importante para nós, em cada palavra e em cada olhar.
De A até Z, temos alguém a quem dizer muito obrigado.
Mas, em especial a vocês duas, que estavam tão próximas, quero deixar registrada a nossa maior admiração e dizer-lhes da certeza enorme de que o lugar de cada uma está reservado ao lado do Pai Eterno.
Nós outros, estavamos tão longe e não podiamos participar por igual !!!
Lá longe, onde seu corpo estava sendo velado, li, em uma das paredes, gravado no mármore, versos de uma música, imortalizada pelo cancioneiro popular, que não me sai da cabeça :

“ Não sei porque você se foi ... tantas saudades eu senti e aquele adeus não pude dar ...”

Deus parece, às vezes, querer judiar do seu povo ...
 
Germano Ribeiro
Enviado por Germano Ribeiro em 08/05/2011
Reeditado em 13/09/2011
Código do texto: T2956567