PRAIA VERMELHA
Que pena! Os três anos da Praia Vermelha escoavam rapidamente nesse final. Logo agora que a família mineiríssima estava começando a falar no “x”. O caçula então aprendeu as primeiras palavras olhando para o bondinho. Pois é, chegamos ao Rio desconfiados, sem saber se iríamos gostar ou não. Pela primeira vez a família deixava as montanhas de Minas, os “uais”, o trem, os amigos, os parentes... Mas, valeu a pena!
Encontramos novos amigos e a cidade maravilhosa. O edifício dos militares na Praia Vermelha, enorme, guardava também uma imensa família. Logo fizemos amizades, nossos filhos se enturmaram e, viver ali, era uma eterna festa. Do meu apartamento, da minha cama, víamos subir e descer o bondinho do Pão de Açúcar.
No prédio tínhamos todo conforto: armazém, lavanderia, farmácia, uma loja onde vendia-se tudo, desde agulha, tecido, panela, sapato... Deus meu, era incrível a lojinha do “Seu........” - esqueci seu nome.
Praia? Todos os dias se quiséssemos e podíamos.
Cheguei preocupada em como empregar meu tempo. Tinha quatro filhos, mas duas empregadas. Sempre gostei de ocupar meu tempo com coisas que me fizessem sentir útil. Fui professora primária durante anos.
Ofereci-me para ser catequista. O padre, um holandês, havia pedido na missa para que os filhos dos militares se preparassem para a primeira comunhão. Como estava há alguns anos afastada desse ofício, ele me levava um roteiro extraído do Catecismo holandês; por sinal uma maravilha. Fiz uma reciclagem, e tenho certeza, meu filho (que era meu aluno) e todos que passaram por mim durante esses três anos, tiveram uma bela formação para a vida.
Nos fins de semana, curtíamos as horas dançantes e bailes.
E agora, para onde iremos? Ninguém sabia o que nos esperava.
De uma coisa tínhamos certeza; as belas e grandes amizades levaríamos por toda a vida. As lembranças são incomparáveis, mas um fato me angustia quando me assalta. Sai um dia, de carro com meus dois filhos menores para um passeio em Copacabana. Já dirigia há muitos anos e nunca ouvira falar que, pela manhã, uma parte do trânsito era fechada. Tranqüila, dirigindo, achei pouco movimento, lá fui eu até entrar no túnel que liga Copacabana à Botafogo, quando ..... um horror! Infinidades de carros, depois do sinal aberto, avançavam pelo túnel. E, eu, na contramão. O barulho das freadas foi tremendo; do meu carro e de todos que avançavam. Nunca ouvi tanto palavrão: - É louca! Onde já se viu, sua maluca! Tremendo dos pés à cabeça ainda tive, enquanto me esperavam, que dar uma ré para retornar. Voltei arrasada! Todavia, na vida é sempre assim: Em céu estrelado pode aparecer nuvem.
N.B. - Depois eu conto para onde fomos.