Outono

Qual a magia dos filmes? Nesses há um quê de fantástico que te faz pensar em tua vida como uma vida vazia. Mas a questão é: por que existe o desejo de pertencer a um mundo que se sabe ser factual? Pois, por mais que existam conflitos o seu desenrolar é tão inimaginável; e quando imaginável, totalmente inusitado. Adoro ir ao cinema e costumo acompanhar todo percurso da película que chama minha atenção: trailer, crítica e estréia. Poderia ser um maravilhoso momento de fuga, se a história e desfecho não diminuíssem a minha casa e a tornassem tão apertada; se o meu cotidiano não parecesse tão entediante e mesquinho; se o final realmente representasse um término.

Trata-se da chegada do Outono. Um momento para se repensar a vida, suas prioridades, projetos, relações sociais; talvez o filme tenha representado apenas o estopim.

Em uma ficção cinematográfica, não há nada mais deprimente que aquele personagem especial, dotado de uma magia altamente modificadora, cujo encanto torna tudo e todos ao seu redor muito melhores. Ele nos faz perceber que são raras pessoas assim ou (pior!) que nós não somos assim. Nós somos mais irônicos, mais invejosos, mais individualistas, mais, talvez, humanos. E quanto às relações amorosas? Nos filmes vê-se sempre o grande encontro, aquele que o amigo de um amigo de um amigo seu comentou, mas que você e ele nunca experimentaram, em virtude de outros critérios que asseguram a relação: carência, sexo, status social dele/dela... E então nos deparamos com um grande encontro construído, montado, criado por nós. Somos mais humanos. E isso, com certeza, me conforta.

Podemos substituir a insatisfação pela falta de gratidão a tudo que temos. É momento de ler o horóscopo, abrir cartas, porque realmente se pensa que a mudança é exterior e isolada do eu, algo estranho que parte de fora para dentro. Aproveitemos o Outono precoce. Cada folha que cai representa um espelho mágico que nos permite ir além do que é possível ver. Mas quem sou eu para traçar tantas considerações empíricas. Eu, que não consigo florescer... o Outono tem sido a única estação em mim...

A terceira pessoa realmente nada tem a ver comigo. O meu esforço era tirar do meu texto essa prosa poemática de caráter confessional. Mas... meu texto sou eu. E essas são algumas das convicções de quem se traduz fielmente ou tem a pretensão. De quem se acha no dever de, nas linhas em que se colocar, decodificar-se milimetricamente. Fidelidade bizarra que faz o texto travar, desandar, desmanchar-se, perder-se... e então o que sobra é uma confissão sofrida, esquematizada e artificial. O que diriam os parnasianos se me lessem....

Liu Suzart
Enviado por Liu Suzart em 07/05/2011
Reeditado em 10/05/2011
Código do texto: T2955837
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