gazal.

está sempre ali

sentado numa cadeira de pau.

olha à todos,

vigilante,

tal um fiscal

atento à qualquer sinal.

num momento,

um burburinho,

barulho anormal.

levanta-se,

pede calma,

quase ordena:

¨silêncio, desliguem os celulares.

não atrapalhem a atração principal.

e completa, afinal:

¨e vão fumar lá fora.

se não estão gostando

vão embora,

tchau ! ¨

alguns o amam.

outros, nem tanto.

já ouvi dizerem:

¨tenho medo dele,

parece mal !

defendo-o:

¨não fale assim.

ele só quer manter a ordem no local !

quando sobe ao palco

declama, dança, canta, sem igual:

¨naquela mesa está faltando ele

e a saudade dele está doendo em mim ! ¨

todos aplaudem, gritam:

¨bravo, sensacional !

fica vermelho, tira o chapéu,

ajeita a bengala,

solicita aplausos,

agradece:

¨ é minha canção favorita.

acho-a genial ! ¨

todos temos nossa canção preferida.

qual é a sua ?

a minha é assim:

¨kalu, kalu, tira os verdes desses oiós di riba dieu.

kalu, kalu, não me atente se ocê já me esqueceu.¨

vez ou outra,

encontro-o no calçadão de copacabana

sentado num banquinho à beira mar.

me faz um sinal:

¨joão, joão, venha tomar comigo uma água mineral ! ¨

como recusar um convite tão cordial ?

dois dedos de prosa,

um conselho sentimental.

sigo minha caminhada matinal.

deixo-o-lá,

entregue aos seus pensamentos.

na certa,

nascerá ali,

mais uma poesia

do meu amigo

gazal.