ELA JÁ FOI
 
 
Ela veio com o filho. Interiormente me emocionei. Mas segurei.
Ficou cerca de uma hora para comemorar o dia das mães.
Passei-lhes a sacola de ovos da Páscoa que não pude entregar. E ela trouxe uma panela grande emprestada para eu fazer o frango de amanhã. Começamos bem este reencontro.
Peguei na estante o livro que mais amo de belas imagens. E lhe dei como presente do dia das mães dela.
 Disse ela:
 Não te trouxe nenhum presente...
Eu, você é o presente, minha filha...
 
Mas está bem. Não sente mais dor de cabeça. Pálida, sem uma gota de cor nas faces.
É minha filha de corpo e de coração. O amor está entre nós, profundo.
Mas a vida de casada a separou de mim. Como um dente arrancado sem anestesia.
É uma menina de quarenta e um anos. Junto do filho no sofá, parecem irmãos.
Deixou a arte esquecida, virou advogada e agora é perita em cozinhar para a família.
 
Quando disse ir embora, pedi que ficasse mais um pouco. Ficou mais um pouquinho para deixar nos envolver o amor de mãe e filha, e de filha e mãe. Sentei juntinho. Peguei seu braço, sua mão, vistoriei-a. Amei-a e o sentimento transmitido ali junto no sofá, foi trocado, correspondido. Corre em suas veias o amor de mãe e filha.
É uma filha. É o amor.
Esse foi o nosso dia das mães.
 
Amanhã será o restante do dia das mães.
Com almoço, filhos, encontro sem cansaço.