O Ideal Ruiu

"Não era o que queríamos; tudo vai ruir" - Dead Fish, em "Bem Vindo ao Clube".

Concentrei-me nos dedos dos pés dela. Estávamos na cozinha da casa dela. Eu recém tinha percebido que estava bastante vulnerável aos encantos dela. A mulher quando percebe isso, ah, meu filho, te tem na mão como uma marionete de seu próprio sentimento, onde ela se torna um ventríloquo, controlando-o ao bel prazer de sua vaidade.

Olhava seus dedos dos pés pois eles são a coisa mais feia no corpo de uma mulher.

O dedão era comprido, fino no começo, e, largo e achatado na ponta. As unhas, esmaltadas em pérola, eram todas minúsculas, sendo que a do dedinho passava quase despercebida. Desencanei dos pés e fui subindo a vista: canelas. Um par delas. Panturrilhas. Um ótimo par delas. Grossas, torneadas. Grossas de novo. Joelhos. Um par. Coxas; lindas coxas de triatleta. Dali, fui direto pro rosto. Olhos verdes e zombeteiros faziam mira nos meus olhos castanhos e baços. Certo rubor tingia as maçãs do rosto. Mastigava uma pêra com toda a inocência de uma embaixadora da luxúria. Ficamos por mais alguns minutos nessa contemplação excêntrica e taciturna. Não precisávamos falar; a minha vontade era de abrir os botões e zíper do short jeans e chupá-la até que começasse a verter o caudaloso e adocicado mel de suas entranhas. A dela, conforme confidenciado no meu ouvido (com uma bela linguada subseqüente) era botar o meu cacete duro pra fora da bermuda, ajoelhar e mamar e depois subir em mim e cavalgar que nem uma puta louca. No entanto, ficávamos na vontade, com os hormônios a milhão e o tesão dentro de um envelope sem cola.

Além de nós, na cozinha, sua mãe e irmão estavam na sala assistindo alguma coisa na internet. A sala era, de certa forma, integrada à cozinha; cômodos separados apenas por uma bancada revestida de mármore – a qual eu estava recostado e era o lugar onde eu a colocaria sobre e abriria aquelas pernas tesudas no limite e enterraria a língua bem fundo em sua bucetinha apertada, se não fosse a presença dos outros moradores da casa.

Eu tinha desenvolvido uma idéia meio fantasiosa: sob a escada que levava aos quartos havia um pequeno espaço que era a despensa e que, uma vez nós dois lá dentro, mãe e irmão ficariam com a visão obstruída. Descartei a idéia quando ela veio me abraçar. Por cima do meu ombro pescoçou o que os outros assistiam e deu algum pitaco que pra mim soou ininteligível. É difícil entender alguma coisa quando se está apertada, maestral e majestosamente sendo masturbado na cozinha da casa da garota que você está saindo com a mãe dela a menos de cinco metros de distância.

Tentei afastar a maluca, no que ganhei uma mordida no pescoço e uma unhada no saco. Fiquei resignado. Derrotado. “Sossega, porra!”, falei. Ela ficou meio magoada e encostou na pia, que ficava logo à frente.

Concentrei-me nos dedos dos pés. Já era a terceira ou quarta vez que a coisa se repetia e eu estava ficando de saco real e literalmente cheio.

Era a minha primeira vez na casa dela.

Tínhamos passado poucos minutos juntos num parque próximo dali quando a chuva caiu inclemente e estragou tudo; mocinha da casa, novinha, fruto de preocupações e orgulhos vindouros – logo a mamãe dela apareceu com o carro para buscá-la e eu acabei entrando de gaiato na história.

Ah!, a família perfeita! A casa perfeita! Pai bem sucedido e mãe bonita e elegante. Filho viciado em videogames de ultima geração e a filha exemplar, estudando quatro horas por dia mesmo nas férias; leitora compulsiva, um Q.I. acima da média, capaz de discorrer por horas teorias e significados ocultos do Memórias Póstumas e de alguns contos do Edgar Allan Poe – e uma porra de um maldito hímen entre a nossa paz mental!

Pois, sim, apesar de todos os contrastes (eu, rapaz feio, morador de periferia, desempregado, tênis com sola furada e com cadarço estourado do atrito com a lixa do skate) ela aparentava estar apaixonada por mim e constantemente (até mesmo mais do que o suficiente do que a minha paciência podia agüentar) confidenciava que gostaria que o defloramento fosse meu. Já eu, com meu temperamento transitório – ora quero muito perto, ora quero que morra -, tinha a certeza de que assim que fizesse a incursão naquelas carnes inexploradas, o véu da paixão cairia por terra e ela seria mais uma garota guardando rancor. Acontecia de tal processo ocorrer – não somente com “virgens” – e eu sair da vida delas como um erotômano sem coração; como se em alguma ocasião eu tivesse colocado a arma na cabeça de alguém e além de tudo gostasse dessa minha pertinaz natureza hedonista e desapegada de valores morais.

Aconteceu de mãe e irmão subirem a escada e do meu dedo médio escorregar buceta – que mais parecia um torniquete – adentro e do pai dela chegar bem na hora e por pouco não dar o flagrante.

Comento da parte que se tratava de um juiz?

Comento que, na hora de cumprimentá-lo com um aperto de mão - enquanto olhava de soslaio um coldre recém depositado em cima da mesa – o medo de que ele sentisse o aroma mais íntimo de sua prole fez com que eu quase borrasse os fundilhos da calça?

Homem de poucas palavras, logo subiu as escadas em direção a seus aposentos. Era de se esperar que meus encantos de plebeu não lhe causassem apreço e, poucos minutos após sua subida, desceu a esposa, me oferecendo carona até a estação de metrô mais próxima. Não, a filha não poderia ir conosco. O pai queria conversar com ela.

Bem, poderia ser por outros N motivos a conversa – anunciada pela mãe com uma tensa entonação de voz -, mas eu me senti culpado por alguma coisa que sequer conseguia definir nas minhas conjecturas. De qualquer forma, despedimo-nos no portão com um longo abraço e eu entrei no SUV do ilustríssimo excelentíssimo meritíssimo.

A mãe dela usava saia e tinha pernas realmente boas; malhava duas vezes por dia, fazia ioga, caminhadas, corridas, aulas de dança do ventre e tudo o mais que o dinheiro público poderia pagar em benefício de sua saúde e vaidade. Cabelos ondulados repousando nos ombros. O vai-e-vem dos joelhos enquanto os pés se alternavam nos pedais.

Parou o carro numa rua que não havia estação de metrô alguma e, guiada pela força dos meus braços, sentou em cima de mim – tal qual sua filha confessara tórrido desejo inúmeras vezes -, me beijando com um ímpeto assustador, como se há anos não soubesse o que é sentir as mãos, o cheiro, o beijo e o roçar de barba de um homem tão sequioso por seu corpo e sexo como eu estava desde que havia entrado naquele carro.

Foi estranho; estranho demais!

Não me surpreendi quando constatei que ela estava sem calcinha. Surpresa maior foi a constatação da hermética vaginal ser hereditária. No meio do frenesi, meu pau escapou pra fora da calça e uma cuspida na mão besuntou-lhe a cabeça inchada. Sim, estava inchado como poucas vezes já o vira, de tanto tesão reprimido por causa da filha da puta virgem, filha da filha da puta que tentava a todo custo ser empalada no banco do carona do carro do marido. A coisa entrou, rasgando, como se ele fosse um facão ganhando passagem na mata fechada. Não foi muito bom. Após umas vinte estocadas eu já estava com a porra da porra no gatilho. Uma merda. Não tardou para que eu começasse a gozar aos borbotões. Gozei dentro, mesmo.

"Você pensa que a nossa vida é um conto de fadas, não é?", ela me perguntou, voltando a assumir o volante.

"Mesas fartas no Natal, viagens em todo e qualquer feriado prolongado, finais de semana na praia, pilates, teatro, casa dos sonhos no bairro dos sonhos, geladeira apinhada de ovos de chocolate em época de Páscoa, missa aos domingos; se todas essas coisas não propiciam uma vida de conto de fadas, bem...", pensei comigo mesmo, mas não abri a boca; limitei-me a apenas olhá-la nos olhos de forma contemplativa e depois virar o rosto e olhar a minha própria vida, pensar nos meus próprios problemas, nos meus excessos, nas minhas recusas, nos meus egoísmos, nos meus sonhos, nas minhas frustrações...

Parou o carro diante da estação de metrô, e, sempre olhando pra frente, destravou as portas. Abri, saltei e fechei sem olhar pra trás. Ouvi o barulho do motor, dos pneus se afastando...

Desci uma escada, passei a catraca, desci dois lances de escada rolante, entrei no trem, sentei, afundei a cabeça na palma das mãos e as lágrimas apareceram sem me explicar o porquê. Após algum tempo, afastei as mãos do rosto e fiquei olhando os dedos dos pés de uma bela mulher. Concentrei-me neles...

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07/01/2011 - 22h45m

06/05/2011 - 10h30m

07/05/2011 - 11h00

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 07/05/2011
Reeditado em 07/05/2011
Código do texto: T2954730
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