Um presente caro pra mamãe.
Quando criança, na minha pequenina cidade do interior pernambucano, sempre que chegava o dia das mães, eu desejava ter dinheiro para dar um presente caro a minha mãe. Um liquidificador, por exemplo! Mas sequer uma caixa de sabonete eu podia comprar.
Mamãe parecia absoluta e hoje eu tenho certeza de quanto eu era tão relativo diante de sua grandeza.
Apesar da pobreza, ela não reclamava de nada. Muitos foram os dias em que a gente não tinha as três refeições, mas ela não se desanimava: encaminhava-nos para casa dos meus tios e avós. Quero dizer, a gente ia passar o dia na residência deles e minha mãe se tranqüilizava porque a gente não ia ficar sem as três refeições. Ela, não. Permanecia em casa sozinha, pasando alguma dificuldade, desde que nós não passássemos. Muitas vezes ela colocava água no fogão de lenha pra algum vizinho não perceber que não tinha nada naquele momento pra gente se alimentar. Ela agüentava o trampo sozinha, pois meu pai, como todo pai da época, repetia um padrão tolerado de pai ausente que, como se não bastasse, passava por machão.
Ela não. Não tinha tempo ruim. Absoluta, não se cansava nem reclamava quando lavava um montão de roupa no tanque. Esperava secar para passar a ferro e concomitante cuidar das refeições quando tinha. Dava-nos banho, lavava nosso bumbum, olhava as orelhas, cortava as unhas e, quando necessário, o pau cantava em nosso coro. Nesse contexto, a nossa educação era sagrada. Nada de filho dela trabalhar fazendo mandado dos vizinhos. Nada de filho dela andar largado, sujo, esmolambado. Filho dela tinha mesmo que estudar! Ela mesma nos ensinava as tarefas da escola e disto não abria mão.
Hoje, massacrada pelo tempo, face cansada, cabelos grisalhos, passos lentos, anda meio sumida. Alguns filhos entram em sua casa e nem a percebem, mas ela está lá – magrinha, tomando seus remédios da diabetes e da sua hipertensão, mas firme. Não se queixa de alguns filhos que nem lhe ouvem mais; que nem lhe vêem mais; que nem lhe sentem mais. A idade avançada parece tornar as mães meio que invisíveis. Mas ela não se dá por vencida: sempre encontra uma justificativa para nunca culpar um filho de nada. Coisas de mãe. Coisas de mistério que só elas podem alcançar, talvez pela sociedade anônima que mantêm com Nossa Senhora.
Hoje, tenho algum dinheiro pra lhe dar um presente bom neste dia. Um carro, por exemplo. Mas ela não quer. O que mais lhe dá prazer é saber que estamos bem. O melhor presente que ela deseja no seu dia oficial é a PRESENÇA dos FILHOS...