Seria Roraima o verdadeiro Eldorado?
Para entender esta pergunta sobre a região de Roraima, vamos voltar ao passado. Ao final do século XVI, época de ouro da pirataria, período em que o espetacular e o sobrenatural ocupavam as melhores mentes, nessa época sonhava-se com coisas incríveis. Uma alucinação geral tomava conta do gênio humano, a magia dominava tudo, os homens lidavam com admiráveis descobertas, como por exemplo, a alquimia que se tornará uma alavanca a ciência material. Uma espécie de sonambulismo guiava os passos europeus. Camponeses em suas palhoças, tabernas ou envolta de uma fogueira ainda lembravam as loucas campanhas das cruzadas e se punham a sonhar com a terra prometida recheada de tesouros.
Eles repetiam uma história vinda da corte Espanhola, que além Mar, no novo mundo descoberto por Colombo existia um reino maravilhoso, banhado pelo sol onde as suas torres tinham as abobadas de ouro e suas paredes eram suspensas com pedras preciosas, ligadas por prata da mais pura, seu monarca estaria ardendo de desejo para abraçar o evangelho. A localização exata desse lugar até aquele momento era uma incógnita para todos... Nessa oportunidade entra em cena o corsário Inglês Walter Raleigh um dos piratas do Caribe contemporâneo de Francis Drake "O Dragão" como era conhecido entre os Espanhóis. Drake foi o Primeiro Inglês a circular o planeta através dos mares um verdadeiro lobo do mar. Raleigh herdeiro desse legado depois da morte de Drake resolveu fornecer subsídios cartográficos extraídos de uma viagem que fez ao novo mundo em 1595 para que se produzisse um mapa da América do sul desenhado pelo cartógrafo Holandês Jodocus Hondius com a ajuda do cientista Inglês Thomas Harryot a partir de 1596.
Foi a partir de então que esses senhores fixaram um grande lago com o nome de “Parima” bem no coração das Guianas. Local que hoje representa a região de lavrado (campos naturais Roraimenses que se assemelham muito as savanas Africanas). Esses campos vão de leste para oeste, das margens do Rio Rupununi na atual república cooperativista das Guianas (antes Guiana Inglesa) até as Florestas domunicípio de Amajarì, no oeste do Estado de Roraima, e de sul para norte, vai do Município de Mucajaí no sul do estado de Roraima até do outro lado das Montanhas Pacaraima no Município de Gran-Savana, Estado de Bolívar, Venezuela, abrangendo uma área total de aproximadamente 62.000 Km². Esse lavrado ocupa quase 1/5 do Estado de Roraima onde esta a maior porção desses campos naturais, cerca de 45.000 km2.
Na época o pirata Inglês apontou em seus levantamentos cartográficos esses campos naturais como sendo o local exato de um suposto Grande lago em cuja, a margem Ocidental estaria localizada a cidade perdida de Manôa, apontou para esses campos talvez por ser um local rodeado de montanhas, um lugar de difícil acesso onde a passagem que levava até o “Parima-lake” (lago Parima) eram rios nunca antes navegados pelo homem branco, rodeado por um inferno verde (florestas), moradia de enormes serpentes, ferozes felinos e tribos canibais, os famosos “Canaimé” (os homens sem cabeça com os olhos na barriga) também chamados de Epuruimã.
Muitos aventureiros fingindo não acreditar nesses perigos se lançaram em busca desse reino, a quem chamaram de “Manôa a cidade perdida do Eldorado”. Um dos primeiros a se lançar nessa aventura uns 60 anos antes do pirata Inglês foi o Espanhol Francisco de Orellana, veio pelo Pacifico desceu o Grande rio das Amazonas e não encontrou a passagem sul (O vale do Rio Branco) chamado pelo herói amazonense Ajuri caba de rio “Queceuene” (rio branco). O que Orellana quase encontrou foi à morte na mão das “conui-puiaras” (mulheres sem maridos)mais tarde chamadas de Amazonas.
Depois foi a vez de Diego de Ordaz que desceu de Cartagena na Colômbia atrás da passagem norte (O vale do rio Caroni, Venezuela)foi massacrado junto com a tripulação nas margens do Orenoco pelos “Guaribos” (de quem descende os índios que moram próximo ao monte Roraima, ler a historia, O tumulo de Makunaima) bem próximo ao encontro do Caroni com Orenoco (Atualmente cidade de Porto Ordaz), Diego andava atrás da passagem norte para Manôa a cidade perdida. Teve também Lope de Aguirre que passou longe daqui penetrando através da bacia do rio da prata, nessa viagem Lope ficou louco, matando a própria filha e depois foi esquartejado pelo governo Espanhol.
Na verdade poucos foram os aventureiros que sobreviveram a essa procura, tripulações inteiras desapareceram tragadas pela “selva”, muitos tiveram uma morte terrível sem deixar nenhum vestígio.
Porem houve aqueles que escaparam da morte e trouxeram historias incríveis... Como o próprio corsário Inglês Walter Raleigh que nessa sua viagem pelo Caribe consegue os principais subsídios Cartográficos sobre Manôa em Trinidad apos capturar o seu governador Antônio de Berrio toma-lhe um tosco mapa com indicações grosseiras que apontavam para o coração das Guianas, região sul do alto Orenoco onde supostamente se localizava a passagem norte para a cidade perdida, através do Vale do rio Caroni (diamante).
Penetrando no Rio Orenoco (Venezuela) pelo do Oceano Atlântico, o corsário faz amizade com vários chefes caribenhos, um desses principais chamava-se Cara-panã ou Morequito em espanhol, quando indagado sobre o local onde ficava “Manoa”“ diz ao Corsário que a cidade perdida fica “por trás das montanhas onde o sol dorme”. Ou seja, para o Oeste, Nas cabeceiras sul do Rio Orenoco. No lugar chamado pelos nativos de Pari - imã que significa “Rio do alto” (nome antigo de um rio pertencente ao Noroeste do estado de Roraima) Carapanã diz que os indígenas de lá são súditos dos “Homens das pedras brancas” Incas, que soube de historias de parentes próximos ao Parimã que foram atacados e tiveram suas mulheres e os jovens levados para servirem de “Poito” (escravos), pois lá no Parimã cada chefe tem 5 a 10 mulheres. Para deixar o corsário mais tentado ainda, o índio diz que próximo ao Parimã a varias montanhas, onde o chão está cheio de pedras que brilham (diamantes) segundo ele é um lugar de maus espíritos, pois tal “pedras” são “Jawaros” espíritos malvados de xamãs mortos, e que esse local é aquele a quem tanto os Espanhóis e os“Paranã-kiri” o pessoal da Companhia das Indias (Holandeses) procuram. Que tal região é guardada por índios enormes considerados muito bravos chamados Epuruima.
Ao chegar à embocadura do Caroni (atualmente Lago de Guri, onde esta a cidade de Porto Ordaz, Venezuela) Raleigh abandona a embarcação grande, devido aos rápidos (corredeiras) que ali existiam, então começa a remar subindo o rio em canoas em direção as cabeceiras, acreditando que esse o levaria ao seu destino.
Relata assim o parte da viagem:
“Temos que ficar sob o sol e a chuva. A céu aberto o sol é muito escaldante, tudo é tão insalubre e pestilento, nossas roupas apodrecem rápido, a alimentação é somente peixe. Este local é comparável as piores masmorras da Inglaterra” (baixo Caroni) Depois de muito tempo, quando se livram da região de Floresta o corsário prossegue: “Enquanto tudo que havíamos visto” antes era mata fechada com moitas de espinhos, um verdadeiro inferno verde, agora o que avistamos são planícies com 30 km de comprimento, onde o capim é curto e verde (começo da Gran-savana Venezuelana) e a pomares que parecem crescer sozinhos como que pela arte do mundo (buritizais). “Ao remarmos pelo rio conseguimos ver cervos (veados), que vem beber nas margens como se acostumados a nossa presença, há no rio uma grande quantidade de aves e muitos estranhos peixes de formato maravilhoso”.
“Ao subirmos no topo de uma colina obtivemos uma visão maravilhosa, pode se ver o rio serpentear, enxergamos três de suas partes”. “Da pra ver também paredões altos como as maiores torres de igrejas da Inglaterra” (enxergaram os primeiros Tepuys, montanhas em forma de meseta). “são rodeados de nuvens, de alguns deles cai uma grande numero de cascatas, em uma delas a força da água parece tão grande que ela não chega à encostar nos flancos, cai com tanta fúria, que antes de atingir o solo se transformar em chuva (alguns supõem que tenha visto as paredes no Anhan-tepuy a montanha do diabo, onde esta o salto Angel). Raleigh escreve em seu diário como se acreditasse ter encontrado a passagem norte, estava diante das torres de entrada para “Manôa”. Ao enxergarem de longe os grandes Tepuys cercados de selva, o guia de Raleigh, um indígena que ele levava como refém ameaça abandoná-lo, prefere pular na agua e morrer afogado ali, do que penetrar naquela região de floresta umida, por temer as tribos que ali Habitam chamados “Canaímã” (Canaimé no lado Brasileiro). São índios enormes quase três metros, usam flechas e zarabatanas envenenadas pelo “curare” o veneno mais temido por todos, principalmente os Europeus, esses índios pintam olhos no peito e a boca na barriga para confundir e amedrontar o inimigo e ficarem invisíveis na floresta( camuflados)...Eles não tem cabeças. “talvez um truque indígena. O guia explica ao corsário que os índios mais velhos de sua tribo contam que tempos atrás parentes próximos travaram guerra com os Canaimé. Eles vieram roubar suas mulheres, são conhecidos em sua tribo como os “os homens invisíveis ou homens sem cabeça, aqueles que têm os olhos na barriga”. Costumam torturar suas vitimas até a morte quebrando com pedras as suas munhecas e tornozelos para que não reajam, depois de torturarem e empalarem a vitima comem o seu fígado cru numa espécie de ritual de caçada. Nas guerras eles usam uma arma chamada “fura olho” para furar os olhos e imobilizar o inimigo que no futuro atados a cordas serão o rancho,vão servir de “Carne fresca” para as grandes viagens que fazem atravessando a floresta ate as savanas do Parima lake, Suas malocas estão próximas ao rio Xurún-merú que nasce no Anhan - Tepuy (Montanha do Diabo). Lugar habitado por animais gigantes (formações rochosas com forma de animais e coisas), onde mora um espírito do mal que transforma seus inimigos em pedra , eles os chamam de Makunã-imã (O grande malvado), ele é o pai dos Canaimé, os protege e lhes dão poderes mágicos. Diante de tal historia e temendo ser alcançado pelos Espanhóis que revidariam o assalto a Trinidade, aproveitando também o aumento das águas o corsário resolve desistir e voltar para a Inglaterra de mãos vazias.
Anos depois antes de morrer decapitado, além de contribuir para a fabricação de um mapa da América do sul, Raleigh escreveu um manuscrito de suas viagens intitulado: “O grande belo e rico Império das Guianas com Relação da Grande e dourada cidade de Manôa a quem os Espanhóis chamam Eldorado” Essa obra mistura o real com o imaginário, contribuindo de forma significativa para a popularização do mito por todo o Mundo, esse livro pode ser considerado o primeiro Best-seller da renascença, na época da sua publicação por volta de 1620 vendeu mais de 1.000.000 (um milhão de copias) sendo reeditado até hoje.
A passagem dos anos transformada em séculos não foi suficiente para desfazer a grande miragem do Eldorado que paira sobre esta região. Seguindo os passos de Raleigh quase dois séculos depois em 1835 vem para essa parte quase inexplorada da América do sul Robert Hermmam Schomburgk e seu irmão Richard, ficaram conhecidos entre os indígenas da região como “os Samburuku” foram Talvez os primeiros a serem patrocinados pela entidade filantrópica recém-fundada “RGS” 1830 (Royal Geografy Society) entidade da realeza Britânica. Foram também os primeiros pesquisadores oficiais que se tem noticia a se aproximar do grupo de montanhas do qual faz parte o monte Roraima (meseta de granito que empresta o nome ao Estado Brasileiro). Esses homens vieram pela passagem leste que leva ao Eldorado, a bacia do rio Essequibo (principal bacia da Guyana Inglesa), subindo o seu principal tributário o Rupununi eles chegaram até uma passagem antiga muito conhecida pelos índios locais “o lago do Pirara” onde em épocas do “pico das aguas” mês de junho/julho ela invade os campos naturais abrindo uma passagem magica de aproximadamente 72 km de extensão entre um rio e outro, formando um labirinto de campos alagados entre o Rupununi e o Rio Maú que desce do Norte ao encontro do Rio Branco. Essa passagem magica ficou visível para os portugueses por volta de 1740 quando o holandês Nicolaus Hostmam, fugindo de seus compatriotas instalados no Essequibo, resolveu fazer essa aventura seguindo os rastros deixados há 20 anos atrás pelo amazonense Ajuricaba que usava essa rota para nos meses de junho e julho fazer o escambo com os Paranãkiri (holandeses) via Rio Branco, e Maú. Foram 13 anos depois da morte de Ajuri caba que Nicolau atravessou de uma bacia para a outra sendo capturado no rio negro pelos portugueses que pegaram com ele mais detalhes sobre esse caminho secreto e navegável.
Inglês naturalizado, mal sucedido como criador de ovelhas, Robert Schomburgk resolveu ser agrimensor, pegando como primeiro Trabalho oficial, demarcar de forma unilateral a fronteira da recém-conquistada Guiana Inglesa com o Brasil e Venezuela. Como seu antecessor Walter Raleigh, somente um pouco mais cético, dizia que sua missão não era procurar a cidade perdida, e sim descobrir o nascente sul do Orenoco, até então um mistério para a cartografia mundial, e com isso também delimitar as fronteiras. Dizem alguns estudiosos que o próprio Humboldt o incentivou através de cartas.
Se essa era uma terra incógnita para os ingleses, não era para os portugueses que já a conheciam através de seus piratas captores de escravos índios, esses sim reviravam todo o Vale do rio Branco, registrado através de pinturas pelo português Alexandre Rodrigues ferreira que esteve no vale dos “homens sem cabeça” no final do século XVIII.
No inicio de sua viagem Schomburgk quando avistou as primeiras mesetas de granito do escudo das guyanas. Usou a palavra do Inglês arcaico “Top” para descrever montanhas e serras. Para os cabocos que o acompanharam do lado Brasileiro “Top” virou em português “tepe”, Como por Exemplo: “Top – King” (montanha-rei), grosso modo “A maior montanha”. Para os cabocos do lado Venezuelano a palavra tepe na sintaxe espanhola virou “Tepuy” que é usada até hoje para descrever as elevações, exemplo: Wéi-Tepuy “sol- serra” ou serra do sol.
Esse mesmo pesquisador afirma que os povos que moram no pé da montanha Roraima ou “Rorô-imã” traduzem seu nome como: “Mãe das águas” devido à hidrografia do lugar e por ser a principal nascente de vários rios. Por outro lado os que moram um pouco mais afastados, nas vizinhanças, principalmente do lado Brasileiro traduzem “Rorô-imã” como “o grande verde” que é como o monte se apresenta visto de longe.
Essa montanha é o um dos mais famosos Tepuy. Sua fama talvez derive do fato de ter sido o primeiro a ser explorado, e junto com seu vizinho “Kukenã” (água suja) são as únicas conhecidas mesas de pedra da região que tem uma trilha de acesso até o seu topo.
O ponto mais alto do Roraima fica em torno de 2.810 MT, tendo como ponto culminante a pedra do Maverick em cima da montanha(não é o ponto culminante da cordilheira, esse titulo pertence ao pico da neblina no Sudoeste com um pouco mais de 3.000 mt,e talvez exista outros ) o Roraima conta com uma superfície aprox. de 35,00 km quadrados dos quais somente 5% é Brasileiro. Ele vem sendo explorado desde 1835, quando foi avistado pelos irmãos Samburuku, eles encontraram na face sul (parte de baixo) um lugar pantanoso com plantas primitivas jamais vistas pelo homem branco. Chamaram-no de “Eldourado Swamp” (pântano do Eldorado) foi a partir daí que se especulou já que havia plantas primitivas talvez houvesse também animais primitivos escondidos naqueles Tepuys, acabou que os irmãos não subiram a montanha. O Rorô-imã Teve sua primeira subida oficial ate o topo cinquenta anos depois da passagem dos irmãos Samburuku. Foi numa tarde de domingo do mês de Dezembro de 1884. Foram ingleses guiados por Índios Taurepang “Até hoje os Taurepang são os guias e carregadores, eles são os “Sherpas” do Rorô-imã e dezembro é o melhor mês para se escalar o monte” nesse período diminuem as chuvas e a quantidade de mosquitos chamados de Puri-Puri. (em época de chuva há muito mosquitos) Antigamente devido as distancias uma expedição para o monte levava seis meses, atualmente com a criação de estradas na região as expedições são realizadas em torno de 6 a 9 dias, todas partem do posto fiscal do INPARQUE (órgão governamental fiscalizador) na comunidade indígena de “Paray-Tepuy”. (pé da montanha) Comunidade dos Taurepang, não Pemon como afirma alguns estudiosos, Pemon é uma palavra do tronco linguístico Caribe que significa “gente”, portanto se o ameríndio venezuelano diz eu sou Pemon, esta dizendo eu sou “gente” ou “Pemon-Taurepang” gente Taurepang, “Pemon Makuxi” gente Makuxi.
Essa comunidade indígena de Paray-Tepuy esta localizada a 96 km da cidade fronteiriça de Santa Elena de Uairen. É seguir pela Troncal 10 a principal estrada que corta toda região da gran- sabana. (são 70 km pavimentados a partir de santa Elena, depois segue para direita, na comunidade de São Francisco, daí tem mais 26 km estrada de chão piçarrado). É somente do lado Venezuelano que tem à única via de acesso através de caminhada até o topo do Roraima e do Kukenã, o trecho para subir o Roraima é conhecido como “a rampa”. O monte faz parte da extremidade Sudeste de um grupo de mais de quarenta tepuys que se estendem para o norte e oeste dentro do que hoje é o parque nacional Canaima o quinto maior parque natural do mundo e o maior da Venezuela. No lado Oriental desse parque esta o maior Tepuy em escala horizontal “Anhan-Tepuy” (montanha do diabo) com mais de 800 km quadrados, local onde fica a maior queda d’água do mundo, o Salto Angel com 980 mt de queda.
No lado Ocidental fazendo fronteira com a Republica cooperativista das Guianas estão sete Tepuys em uma linha reta norte sul de aproximadamente 150 km chamada “Schomburgk line” onde alinhados do norte para o sul estão as montanhas chamadas de: Ilù 2.150 mt, Tramén 2.700 mt, Karauarín 2.500 mt, Wadaka-piapuê 2.000 mt, Yuruani 2.400 mt, Kukenã 2.650, e Roraima 2.810 mt, esse ultimo é o local do “marco zero” de fronteira entre Brasil, Venezuela e republica cooperativista das Guianas. Inspirado nos relatos dos primeiros pesquisadores a subir o Roraima (Harry Perkins e Everard IlmTunner) publicados no Jornal da RGS, mesmo sem nunca ter visto pessoalmente a montanha o oftalmologista Inglês Artur Conan Doyle criador do personagem Sherlock Holmes, publicou em 1912 um livro que virou um grande sucesso “The Lost Wolrd” o mundo perdido, uma fantástica historia protagonizada pelo professor challanger, o livro acabou virando filme nas mãos do cineasta Harry hoyt em 1925, dai em diante vem inspirando filmes até hoje ( Os mais recentes foram Avatar e UP Altas aventuras).
O monte hoje é um Local visitado por milhares de pessoas de todas as partes do mundo, Muitos sobem a montanha em busca de introspecção, outros atrás de encontrar seus limites e quem sabe enfrentar seus medos, há também aqueles que apenas querem estar lá... O Roraima às vezes se torna uma verdadeira Babel com pessoas de todas as partes do Mundo, a montanha tem espetaculares labirintos e túneis subterrâneos que mexem com a imaginação de qualquer um, por exemplo, a “cova Del Guacharós” um túnel que vai em direção ao centro da terra, morada do pássaro Guacharó (SteatornisCaripensis, ave tão rara como a cegonha bico de sapato, encontrada na África) ele voa até 50 km por noite viajando pelos labirintos para se alimentar do lado de fora( esse pássaro inspirou a criação do personagem da narceja gigante de Up altas aventuras), Esses labirintos subterrâneos fariam Dante e Jules Verne se arrepiarem ao vê-los.
Talvez esses sejam os corredores que levam para as cidades de Akahin, Akanis e Akakor as cidades perdidas do Pseudo-índio descoberto nos anos 70, Tatunka-Nara que foi contatado em pleno Rio Negro no Amazonas pelo jornalista Alemão Karl Brugger em 1971. Segundo Tatunka-Nara em Akahin uma das cidades dentro da floresta Amazônica existe um objeto deixado lá a milhares de anos pelos deuses, e que atualmente fica sobre a responsabilidade de sacerdotes tribais, um objeto arredondado como um grande crânio de cristal, que esse objeto começaria a cantar, ou seja, “vibrar” quando os deuses voltarem das estrelas para busca-los, seria como uma espécie de celular no modo vibração.
Eric Von Daniken hoteleiro suíço pegou carona nesta historia do tatunka produzindo a obra literária “Eram os deuses astronautas”, febre dos anos 80 mas quem se deu bem mesmo com a historia do índio Nara foram os cineastas Spilberg e Geoge lucas quando em 2008 lançaram o ultimo episodio do herói indiana Jones “ O crânio de cristal” a busca por Akakor, tatunka até hoje vive uma vida simples na cidade de Barcelos no rio negro.
Voltando ao Monte. São gargantas que levam para o centro da terra. Devido a sua erudição o monte é considerado por alguns esotéricos como a origem do mundo, ou o umbigo do planeta, é Povoada de lendas e mistérios, sua energia é de uma magnitude que por mais cético que seja o visitante ele não consegue passar pela montanha sem que seus pensamentos mais loucos sobre a existência aflorem. Quando se esta no topo, em meio aos jardins com plantas totalmente primitivas, ou dormindo nas cavernas chamadas de “hotéis” o visitante não é mais dono dos seus sonhos, eles passam a pertencer a montanha. Para muitos que a visitam se trata de um lugar de “morte”. “Morre a antiga e surge a partir daí uma nova pessoa”.
A montanha também é palco de “Abduções e encontro com entidades interplanetárias”. ““ Para os povos tradicionais habitantes da região esses tepuys sempre foram lugar visitado por estrelas cadentes que “descem do céu” isso é contado por gerações entre os Kapon o povo do céu, eles dizem que vieram do espaço, que uma estrela os trouxe, pousou por trás do monte e ali deixou seus antepassados naquela floresta, um dia vai voltar para buscá-los.
As florestas virgens que ali existem são locais sagrados, onde segundo a crença dos Kapon (chamados Ingaricó) moram os espíritos da natureza como o “Kaikushi” (a onça) e também todos os seres do seu imaginário.
O mais conhecido é “Paaba-Curinã” Palavra do tronco Caribe que significa “o grande pai”. é considerado o guardião protetor do tronco da “wazaká” (a árvore da vida).
Depois de ter conhecido o entorno do Roraima e descoberto algumas das nascentes sul do Orenoco, como os rios Arabopo e o Kukenã, os irmãos Schomburgk se aventuram pelo noroeste do estado de Roraima margeando a cordilheira Pacaraimã, contradizendo seus instintos, agora ele iria procurar o “Parimé-lake” e a cidade perdida.
Atravessando o lavrado (campos naturais) passou ao lado do “Top-King” (montanha rei) atual Tepequém, essa montanha esta no encontro da floresta que vem do sul com o lavrado do Oeste. Nessa época não sabia esse explorador que estava passando bem ao lado de uma serra cheia de Diamantes, no entanto seu objetivo era seguir em direção ao rio “Uraricoera” palavra do tronco Tupy corrupção de Curari- Coera (veneno- velho) nome indígena do rio, que faz jus pois ele é muito perigoso, caudaloso, cheio de pedras e corredeiras, já ceifou muitas vidas como o próprio veneno Curari. Na sua parte mais alta o Uraricoera é chamado pelos seus habitantes mais antigos de Pari-imã que significa “Rio do Alto” (mera coincidência com a História de Raleigh).
Quando chegaram na face oriental da ilha de maraca, altura da cachoeira conhecida como Paru-mamã local sagrado para os indígenas do local como os Waikás, Maiongongs e Yanomami, povos primitivos que ao se aproximarem do local, sempre “passam pimenta nos olhos” esfregam pasta de pimenta nas pálpebras para espantar os maus espíritos e ficar espertos, ali é onde o Uraricoera apresenta um degrau de aproximadamente 25 mts. Ali Robert Schomburk deixou o ‘S’ de seu sobrenome gravado em uma pedra bem na margem esquerda do rio próximo a cachoeira na beira de um caminho milenar, passagem obrigatória para quem sobe ou desce o rio e tem que transpor essa cachoeira arrastando as canoas por terra, o local também tem muitos pictogramas e marcas onde foram amoladas ferramentas líticas, ali já foram achadas por garimpeiros varias cerâmicas e ferramentas pré-colombo como urnas funerárias e machados de pedra. Não imagino por que Schomburgk marcou o local, se simplesmente por causa da passagem que e um lugar difícil e marcava o inicio de uma grande Jornada através da floresta, ou se a exemplo do corsário Raleigh que acreditou no chefe Caribe Carapanã, Schomburk talvez achou que tinha encontrado a entrada para a “Cidade perdida” já que ali começa o Parimã e por isso deixou aquela marca lá, ou quem sabe em ultima hipótese tencionasse levar até ali a fronteira Inglesa que estava demarcando. Dali em diante os irmãos “Samburuku” completou um grande circulo no norte da Amazônia Brasileira, atingiu o canal do casiquiare local onde o Rio Negro que nasce na Colômbia joga parte de suas águas no Orenoco de lá os “Samburuku” desceram o negro até a foz do Rio branco,subindo o mesmo, retornando assim para Georgetown antigo Demerara.
O tempo foi passando, então veio o século XX, começaram a passar pelo Rio Branco varias expedições em direção ao rio Uraricoera em busca do parimã duas delas seus lideres deixaram seus nomes gravados lá na mesma pedra de “Samburuku”, foram eles, o medico Americano Alexander Hamilton Rice em 1924 e Candido Mariano Rondon em 1927. Há relatos registrados por um professor de Roraima que seis anos após a expedição de Rice 1924. O mesmo juntou nos estados unidos um consorcio de varias mineradoras, e enviou uma proposta para o governo Brasileiro, de fazer uma estrada de ferro aos moldes da madeira Mamoré do porto de Manaus rumo ao norte em direção a Roraima, em troca do direito de explora por 60 anos de um lado e outro da estrada. A proposta não foi aceita pelo governo Brasileiro. Mas essa proposta se for verdadeira indica que a expedição do medico Rice veio atrás do eldourado e fez uma longa e preciosa prospecção geológica em boa parte do norte amazônico da qual nas deixou copia para os pesquisadores brasileiros. Na época dessas expedições acabava na Amazônia a corrida do ouro branco o látex da seringueira começava a corrida do diamante no alto rio Maú.
Seguindo os rastros dessas expedições no alto rio Uraricoera se instalou o “Garimpo de Santa Rosa” local da primeira tentativa de colonização por parte dos Espanhóis em 1772, o nome Santa Rosa é uma Homenagem a padroeira de Lima no Peru.
Os primeiros garimpeiros iam para la´ através do rio Uraricoera e trabalhavam de forma rústica, muitos que dessistiam do garimpo viravam fazendeiros, criando gado no lavrado do Amajari. Nos anos 40 um antigo fazendeiro já falecido chamado “Antonio Piaui” resolveu patrocinar o destemido garimpeiro surinamês conhecido por “Nego Bruster” para que esse procura-se minérios na região para ambos.
Foi então que antes mesmo de chegar ao garimpo de Santa Rosa, supostamente com informações privilegiadas dos indígenas da região o garimpeiro escalou a montanha chamada por Schomburgk de Top-King. Na verdade o único tepuy totalmente dentro do território Brasileiro. Segundo o Garimpeiro de diamantes Sr. João Cuia amigo de Bruster. hoje morador do Tepequem, Bruster, ao chegar na parte interna da serra, que tem o “formato” de um vulcão extinto, ali dentro de seus lagos maravilhosos ele colheu duas garrafas de diamantes só com as mãos sem usar qualquer ferramenta, a partir daí o Eldourado dos diamantes explodiu e o Tepequem foi o Epicentro dessa explosão. “Isso lembra uma passagem da historia de Raligh, quando o chefe Carapanã lhe disse que próximo ao parimã havia varias serras cujo chão estava cheio de pedras que brilham”.
E assim a coisa andou... Missionários e garimpeiros vieram seguindo os rastros das “expedições cientificas” rumo norte através dos rios Branco, Itacutu e Maú esse ultimo sendo considerado até Hoje “ O Rio dos Diamantes” e rumo Oeste através do Branco, Uraricoera, parima, e Mucajai.
Antigos fazendeiros viravam garimpeiros e antigos garimpeiros viravam fazendeiros, isso rolou por quase 60 anos até virem os tempos modernos e acontecer.
A maior corrida do ouro que Roraima já viu, foi no inicio dos anos 80 a partir da inauguração da BR 174 que corta 1000 km desta região e segue quase que paralela ao curso do Rio branco Inaugurada em 1977. Essa corrida tomou enormes proporções no estado de Roraima, ela se concentrou justamente no Noroeste do estado, principalmente nos rios Mucajaí ,Uraricoera e parima.
A concentração maior de balsas de garimpo era no médio Mucajai e Uraricoera por quase toda a década de 80 a região esteve sobrecarregado de balsas de garimpo, essa febre grassou tomando conta de todos. O aeroporto da capital Boa Vista vivia congestionado com centenas de aeronaves tentando pousar e decolar, toneladas do viu metal eram extraídas destruindo a Floresta e matando seus habitantes, contaminando os rios com mercúrio. Instalou-se na região uma verdadeira operação de guerra, Helicópteros e aviões carregavam cargas dia e noite de uma pista para outra, havia uma centena delas espalhadas. Pessoas largavam seus empregos e penetravam na floresta para nunca mais voltar, ou quando voltava trazia consigo alguma doença tropical do tipo Lestmaniose visceral, pessoas vinham de todos os cantos do país, penetravam na floresta armados até os “dentes” que também eram de ouro, tiravam a tranqüilidade do povo que vivia na floresta, destruíam suas fontes de alimento e contaminavam sua água. Como disse um velho índio “estão abrindo uma grande ferida no coração do mundo”. Muitos “Uaikás” também chamados de Yanomami, considerados como umas das culturas mais primitivas da floresta quase foram dizimadas. Homens, Mulheres e crianças às vezes eram mortas de forma cruel, vitimas da violência e intolerância daqueles que queriam achar o metal dourado.
Nesta época em Boa Vista vivia-se um faroeste-caboco onde um dos “juízes” chamava-se “Sr. Smith Weston Cal 38 e seus cinco ajudantes, ou o promotor apelidado pelas siglas”9 mm” resolviam todos os problemas”. Certo dia as botijas de gás da cidade desapareceram de repente, (nessa época o gás chegava aqui de Balsa pelo rio Branco) foi um mistério, mas, não precisou da ajuda de Sherlock Holmes para desvendá-lo. Elas estavam sendo usadas para estocar combustível (óleo diesel), depois eram bombardeadas por pequenos aviões dentro da floresta em pistas clandestinas que estavam sendo aberto, o destino final desse combustível era abastecer as maquinas que furavam a terra. Esse bombardeio era chamado de “lançamento”.
De vez em quando por “engano” os senhores dos garimpos lançavam um garimpeiro ao invés da botija ou do rancho, em outros casos, bandidos disfarçados de garimpeiros “lançavam” no meio da floresta o piloto para ficar com a aeronave. Toneladas de ouro foram extraídas dessa região, garimpeiros andavam por Boa Vista com embalagens de água sanitária “Qboa” cheias de ouro sem a menor cerimonia. Havia uma alucinação geral, a corrupção imperava no meio publico, enquanto isso a economia local dava um salto influenciando até a economia do estado vizinho Amazonas.
Todo o ouro que foi extraído dessa região, talvez desse para construir a tão sonhada “miragem Europeia de Manôa a cidade perdida”.
Quem sabe até a própria Boa Vista não pudesse fazer o papel de Manôa, já que a cidade esta naturalmente numa região lacustre a margem do Rio Branco, que em época de cheia parece um grande lago, da até pra imaginar ela com portas e janelas de ouro, o palácio do Governo com colunas recheadas com crânios e ossadas humanas, paredes cravejadas de diamantes extraído do Tepequém de onde também saíram toneladas desse mineral... Bem mais isso tudo não passa de imaginação.
E como toda “febre” a daqui passou, surgiu uma nova consciência ambiental que se abateu sobre o globo a partir dos anos 90. Houve a maior valorização da natureza e dos recursos renováveis. Por ordem do governo federal os garimpos foram fechados, os garimpeiros retirados da floresta e muitos tiveram que se adaptar a vida na cidade e no campo virando profissionais, como motoristas, pedreiros, comerciantes, mecânicos, agricultores, pecuaristas, etc...
Hoje em pleno inicio de século XXI muitos desses lugares já se recuperaram da degradação. No Tepequém os ex-garimpeiros se tornaram guias turísticos, artesões e comerciantes, recebendo visitantes de todo parte do mundo, pessoas que vem para conhecer as belezas de Roraima. Quanto ao rio Uraricoera e o Mucajai se livraram das balsas e dos garimpeiros, “Pelo menos em parte”. Atualmente a região que compreende o médio e o alto rio Uraricoera faz parte do entorno da Estação ecológica ilha de maracá a primeira do Brasil onde a vida voltou ao normal, atualmente é proibido qualquer atividade na região sem a autorização do I.C.M. Bio.
Devido à essa ultima “corrida do ouro” em 1985 foi elaborado um projeto de salvamento arqueológico na região onde na primeira etapa as equipes de pesquisa catalogaram 23 sítios arqueológicos, onde um dos mais famosos é o da Pedra Pintada, localizada a 147 km da capital Boa Vista, é possível chegar até ela através da BR 174 no sentido norte. Trata-se de um enorme monólito que tem em sua face leste um painel de 16 metros de altura voltado para o leste com pinturas rupestres. Hoje ele faz parte da reserva indígena São Marcos, onde a váriosoutros painéis rupestres quase todos virados para o leste. Para entrar na região é preciso de autorização previa dos órgãos responsáveis (projeto são Marcos). Muitos desses sítios arqueológicos já estavam catalogados no livro “os Filhos do Sol” em busca de uma civilização perdida na Amazônia, do alemão Marcel Homet, pesquisador que andou por aqui no final da década de 40. Marcel acreditava que a pedra pintada foi no passado um lugar de convergência de grupos humanos para realizações de rituais. Segundo ele os desenhos nela impressos alguns a 16 mt de altura representam uma espécie de antigo alfabeto, talvez o mesmo que deu origem aos alfabetos Egípcios, Sumérios, Ititas, druidas, em fim, de varias civilizações do passado, talvez quem sabe um calendário climático.
Segundo Marcel, muitos dos enigmáticos buracos existentes nas pedras próximas a esse grande monólito foram feitos com ajuda do homem, que os utilizou como pira funerária durante um longo período. Nas proximidades foram achadas, contas, restos de fogueiras, potes de cerâmica com ossos humanos restos de cremações, atualmente boa parte do material recolhido lá pode ser visto no acervo do Museu integrado de Roraima. Marcel era um seguidor fascinado de James Chuchuward o coronel Inglês autor do livro “O continente perdido de Mú”. No final do século XIX Chuchuward viveu na índia onde plantou algodão, morando por mais de 18 anos entre os indianos James fez contato com monges que guardavam tábuas de pedras “como runas” onde estava gravado sobre o inicio da civilização. Os monges o ensinaram a interpretá-lase a partir daí James ficou fascinado e acreditou ter descoberto a historia da verdadeira cidade perdida, Atlântida, mas isso já é outra Historia...