Um site admirável

Temperatura abaixo de zero no extremo sul do Brasil. Rádio Web: Temos blusões para todos agora. Calefação é uma questão pública. Quem disse que na Patagônia dos Palmares não existe piscina térmica? Então, Brown? Ah! Então, Brown. Filmmaker? Agora é fácil. Você com Marly.

Estacionou o carro num aclive onde dava para ver a cidade iluminada. A nebulosidade cobria qualquer coisa que pudesse ser chamada de estrela. Menos Marly. Com a nebulosidade e a iluminação pública o céu parecia de cabeça para baixo. Escutava música no carro. Indiferente a todos os problemas do mundo. Era “A noite estrelada com Marly”. Título perfeito. Suas pernas e a temperatura abaixo de zero.

- O que vamos fazer?

- Vamos demitir Brown.

Brown perderia o cargo e passaria a vida minguando. Marly demitia sempre nos dias ímpares. Poder de Marly. Tinha gosto por demissões. Podia chover canivete, demitia um funcionário a cada dia ímpar do mês mesmo que fosse para resgatá-lo pelo dobro do preço no dia par.

Quando acendeu a luz do quarto o silêncio dormia em todas as portas. Portas que existem nas coisas. Estava fazendo muito frio. Frio triste. Caso caísse um raio ele seria congelado. Sobre a mesa iluminada pelo écrã do micro havia um convite para carnaval em fevereiro. Seria fuga?

“Então, Brown, deixe seu telefone que nós ligamos”. Ele murmurou “isso” como andróide frígido e desinteressado. Estava assobiando outra canção. Mascando chiclete como vagabundo dos velhos tempos. Estilo Dean. Queriam forçar a própria rádio na web. Tocar todas as canções. Sem sugestões. A noite inteira entre canções. A noite inteira entre canções. A noite inteira entre canções. Flor-boreal. Flor-boreal. Flor-boreal.

No aeroporto detestava a idéia da simultaneidade. Brown estava demitido. Mal-ensinado, mal-intencionado. O chiclete maliciável. Era um tipo que ao encontrar alguém zen na plenitude da tolerância tentava incitá-lo a indignação.

Começava a luz nas folhas do chão da pintura outonal. O Boeing 737 atingia a força máxima das turbinas. Tempo abaixo de zero. Brown devia agora viver o tempo do nó mais duro nos sapatos. Era tarde demais para aventuras. Bem melhor era construir um site. Tocar violão ao vivo para Marly. Streammer. Streammer. Focalizava um filme. Exatamente o filme começava a lhe pedir atenção dentro da sua cabeça. “Ganhe um site admirável! Um site infinito”. Recontaria em detalhes uma velha história virtual com Marly. Marly e o site. Sim, o amor nada perdoa. O amor nada perdoa. O amor nada perdoa. O amor nada perdoa.

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Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 06/05/2011
Reeditado em 07/05/2011
Código do texto: T2953609
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