TOPA TUDO POR DINHEIRO

Marcio Freitas, amigo meu, era um ativo gerente de banco, trabalhador e ávido em conquistar espaço na sua profissão. Estava sempre atento na agência, ligado às pessoas que entravam e saíam do banco, bom fisionomista que era e emérito em captar clientes novos para a casa. Conhecedor do mercado, ele era um ótimo profissional.

A matriz do banco ficava na Praça Sete, em Belô, num belo edifício alto, bem no coração da cidade. Junto à praça passava a Rua Espírito Santo, coalhada de casas bancárias, considerada o centro financeiro da capital mineira nos anos cinqüenta. O movimento de pessoas era enorme, o Cine Brasil se destacava bem na confluência da Rua dos Carijós com a Avenida Amazonas, o Banco Hipotecário e Agrícola lá do outro lado e o Banco da Lavoura lhe fazendo frente, do outro lado da Amazonas, na esquina com a Avenida Afonso Pena. Junto ao Cine Brasil, o Café Pérola e mais adiante o Café Nice, até hoje um ponto de encontro tradicional das personalidades mineiras, políticos, jornalistas, esportistas, gente de todo o naipe.

Pois o Marcio Freitas circulava com desenvoltura por esses quarteirões, conhecia todos os tipos representativos daquela imensa fauna humana e, como eu disse, ele era muito bom fisionomista.

Certa ocasião, o Marcio partiu em viagem de trabalho para o interior, onde deveria visitar algumas agências do seu banco. A primeira delas estava em Conselheiro Lafaiete, antes de Barbacena. Poucas horas de viagem depois de sair da capital mineira, nosso gerente estacionava seu carro defronte à agência do banco em Lafaiete.

Ajeitava-se para sair do carro, quando viu um baita mulato, fortão, sarado, camisa de seda de belo estampado, calça de tropical inglês, sapatos de cromo alemão, grossa corrente de ouro no pescoço, relógio caríssimo no pulso, pulseiras e um anelzão de ouro com brilhante encravado, nos trinques. O Marcio bispou o sujeito e falou com seus botões:-

“- Gente, eu conheço esse cara! ... Mas tem qualquer coisa errada!”

O rapaz entrou num tremendo “Mercedes-Benz” prateado e o Marcio, curioso, manobrou seu carro e saiu atrás do mulato. O sujeito vai por aqui, por ali, sobe por uma avenida, desce por outra, circula uma praça e para defronte a um portentoso edifício. O Marcio vem devagar e estaciona junto. O rapaz sai do seu carro e, ao passar pelo Marcio, ele não resiste à curiosidade e indaga do cidadão:-

“- Ei, cara, por favor! Eu conheço você de onde? ... Não será de Belô, ali do centro bancário da cidade? ...”

O rapaz o examina de alto a baixo e, admirado, responde:-

“- É, pode ser, eu andava sempre por ali há tempos. Meu nome é Renato.”

“- Ah, eu sabia, eu tinha certeza. Renato, é isso! Mas você não engraxava sapatos ao lado do Cine Brasil? Não era você mesmo?...”

“- Sim, isso mesmo, era eu. E você, qual é a sua, quem é você?...” – e o Marcio, levando a sua curiosidade aos extremos:-

“- Eu sou o Marcio, gerente de banco.Mas, cara, você mudou muito, de engraxate na Praça Sete para essa pinta de agora, cheio dos ouros, relojão no pulso, bem vestido, o que houve, ganhou na loteria ?”

“- Ah, meu amigo, que nada! A vida em Belô estava difícil, então nos mudamos pra Lafaiete e resolvemos montar uma zona aqui. Um prédio pequeno, só três andares. No primeiro andar, só bichonas, saca? No segundo andar, só putonas experientes e no terceiro só ninfetinhas, manja? ...” – e o Marcio, cada vez mais entusiasmado:-

“- Mas, que negócio bem bolado, sujeito! Que visão de empresa, meus parabéns, companheiro. Você deu uma aprumada legal na sua vida, Renato, tou surpreso! ...”

E continuou o Marcio em seu colóquio com o mulatão nos trinques, jogando o maior confete no cara até que esse, já enfarado daquele papo, lascou:-

“- É, compadre, agora tá tudo bem, tá bonito mas no início foi muito difícil, sabe? No início éramos apenas eu, minha mãe e minha irmã, tá ligado?! ...”

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 06/05/11

Em homenagem ao primo Marcio Felix, ex-gerente de banco, boa praça e um grande contador de “causos”.

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 06/05/2011
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