Quando desci no aeroporto de Cuzco, minha cabeça doía muito, não sabia se era por causa da altitude ou por eu ter bebericado algumas doses de uísque no avião. Peguei um taxi até o hotel, ao descer do velho e sacolejante automóvel, segui em direção a recepção aliviado em saber que dali a poucos minutos estaria descansando meus velhos ossos em uma cama depois de tomar alguma coisa para aquela dor de cabeça horrível. Mas a recepcionista quase estragou meus planos ao me informar que a empresa que eu tinha pagado para reservar o hotel ainda não havia depositado o dinheiro na conta do hotel. Aquela altura dos acontecimentos eu não estava em condições de discutir sobre o assunto, o mal estar me consumia, só queria repousar um pouco, e foi isso que tentei dizer para a moça Peruana a minha frente, e apesar do meu portunhol horrível conseguimos nos comunicar razoavelmente. Feito isso segui o rapaz que me levaria ao quarto, o hotel não era luxuoso, mas tinha seu charme e a localização era ótima, “Ao lado da praça das armas”, aliás, no Peru toda cidade tem uma praça das armas, pelo menos as que visitei.
Então ai vão as primeiras dicas de viagem - Sempre se hospedem perto da praça das armas, e se forem reservar algum hotel, só reservem por um dia, assim se não gostarem o prejuízo será mínimo. Sempre pechinche no Peru eles sempre esperam que o estrangeiro pechinche.
Segui por um corredor que também servia de passagem para automóveis, até que cheguei a um grande pátio central com um pequeno, mas bem cuidado jardim, circundado por uma velha casa colonial que fora transformada para receber hospedes, - Me lembrei da casa de Dom Diego de La Vega e de seu alter ego o Zorro, personagens de uma antiga série de televisão, por breve momento voltei ao passado e vi minha mãe sentada ao meu lado no desgastado sofá da sala rindo das trapalhadas do sargento Garcia- Voltei ao presente ao entrar no pequeno quarto que me serviria de pousada naquela noite, era simples, mas limpo, uma cama, um velho armário e uma antiga televisão de quatorze polegadas formavam o mobiliário. Antes de sair o rapaz que me acompanhava perguntou se eu desejava mais alguma coisa, respondi que sim, queria algum analgésico para dor de cabeça, então o rapaz me perguntou se eu aceitaria um chá de coca, estranhei a oferta mas concordei. Passados alguns minutos em que já tinha tomado um banho, ele voltou com uma grande xícara cheia de folhas verdes submersas por água quente. Aspirei o vapor que saía da xícara, e logo me veio a memória o cheiro de capim molhado, lembrei do tempo em que eu e meus amigos de infância cortávamos a grama e limpávamos os quintais do visinhos para ganharmos alguns trocados. Dei um gole e deixei o liquido parado em minha boca por alguns instantes para apreciar seu sabor, o gosto era suave como manhã de neblina em São Paulo, fiquei ali sentado solvendo meu chá sem pensar em mais nada, naquele momento eu não queria pensar em nada mesmo. Não é que o chá era bom mesmo, alguns minutos depois eu já estava bem melhor, a cabeça começava a parar de doer e eu sentia o corpo relaxar e assim consegui dormir um pouco. Quando acordei já era noite, olhei o marcador de horas do celular e vi que eram nove da noite, levantei tomei outro banho, me vesti e fui até a recepção. Lá fiquei sabendo que o fuso horário entre Brasil e Peru era de duas horas, ri de mim mesmo ao constatar mais uma vez o quanto sou distraído, a funcionária da recepção me informou que o problema com a empresa de reservas estava resolvido. Menos um problema, pensei. Estava pronto para minha primeira incursão em solo Peruano. Cuzco é uma cidade linda, cheia de construções antigas, muito artesanato, muita arte popular e pessoas do mundo inteiro se misturam aos nativos. Caminhei por ruas estreitas entrando em varias lojas que vendiam roupas e uma variedade sem fim de objetos que remetiam a pré colonização hispânica, Nas praças, grandiosas igrejas católicas se misturavam a Estatuas de deuses pagãos, achei interessante também a semelhança da bandeira de Cuzco com o arco iris do movimento gay . Continuei minha caminhada admirando cada detalhe daquela bela cidade, os restaurantes e bares estavam lotados e a vida fervilhava naquele pequeno pedaço da America do sul. Parei em uma espécie de mercearia comprei algumas frutas, um pacote de folhas de coca, e uma garrafa de água depois disso voltei ao hotel.
Segunda dica- Se alimente com frutas e beba muita água.
A noite estava fria, tomei mais um chá de coca e fiquei meditando sobre a minha vida no escuro do meu quarto, como sempre não cheguei à conclusão nenhuma.