Deus!

Deus costuma sentar numa pedra agradável. Pedra que ninguém ousa sentar. Esta pedra fica bem próxima a um obelisco no final da Rua Nova Jerusalém. Sempre rodeado de seus anjos, mas o que Ele realmente gosta é de conversar com Pedro. Mas desde daquele ocorrido entre Pedro e seu Filho, o velho pescador nunca mais conseguiu encarar Deus sem uma profunda vergonha.

Certo dia, Deus e Pedro ficavam apreciando os diversos louvores entoados pela humanidade. Louvores que tinham o objetivo de alcançar os favores divinos. As vezes louvores de agradecimento, de tristeza, de dúvida, de adoração, etc.

Passavam os olhos pelo continente negro e regozijavam com as danças africanas. As várias cores. As músicas entoadas por multidões, vozes mil. Muita alegria tribal. Via um contraste maravilhoso entre a cantoria das tribos africanas e a diversidade da fauna. Adoravam ficar ali, observando aquele lugar que abrigara certa vez o velho Éden.

Paravam também na velha europa. Assitiam entusiasmados os cantos gregorianos. Belo, belo, latim! Deus sentia saudades de falar latim. Emocionavam-se com os clássicos. Com as óperas. Bela Itália!

Olhavam atentamente o grande continente asiático. Os russos. Os cantos ortodoxos.

Ali, próximo, sentia melancolia quando olhava para a Jerusalém. Ah, Jerusalém! Saudades de quando ainda era uma criança e me chamava de paizinho! Dostoiévski aproxima-se e carinhosamente deita sua cabeça no colo do Altíssimo e diz mansamente: ah, paizinho! patchiuka...

Pedro, para desviar um pouco a tristeza prometeica divina aponta para as Américas. Percebe-se a vermelhidão na face do Criador. Vê as diversas cruzes. Quantas cruzes existem fincadas nesta terra! Escuta os tambores do Pelourinho, as cantigas pentecostais, o rock de Deus. Canções nas ruas, nos templos, nos trens, nos morros. O Filho de Deus aproxima-se agora, com aquela ânsia juvenil dos rebeldes da Galiléia, e diz: Esta gente respira Deus! Deus vira-lhe a face e esboça um sorriso prazeroso...

Eles passam o olhar nas Américas e regozijam-se com a sua diversidade. Pedro percebe que Deus está distante. Os olhos fixos numa parte da América de cima. Os pés de Deus estão batendo ritmicamente no chão suave da terra sagrada. Seus olhos estão lacrimejantes. Pedro observa dentro dos olhos de Deus um grupo de negros dançando e louvando ao modo do Alabama. Alabama! Pedro tenta enxugar uma lágrima que desliza gostosamente pelas longas barbas...

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 19/11/2006
Código do texto: T295242
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