SOBRE AÇAÍ E OUTROS PODERES
O marinheiro Popeye é um homem comum e que padece das mesmas limitações de qualquer outro da espécie. Quando come espinafre, portanto, ele fica forte e confiante, uma espécie de Sansão americano. O açaí tem para mim efeito semelhante ao espinafre para o Popeye. Estou viciado em açaí. Sinto necessidade de açaí pelo menos três vezes por semana. É a minha droga, o meu espinafre, o meu alimento sagrado.
É provável que eu seja fotografado nos próximos dias em alguma manifestação em defesa da Amazônia. Pegarei em armas se preciso for. O que não posso ficar é sem açaí. Sem Amazônia é provável que o açaí suma das mesas das lanchonetes brasileiras, o que para mim seria uma tragédia sem precedentes na história do País. Mais grave que a falta de petróleo ou a falta de moral. A falta do açaí faria de mim um órfão alimentar.
Quando preciso de inspiração para minha atividade jornalística ou literária, o açaí é solidário a mim. É como a maconha para a música popular brasileira. É como o cigarro para a redação dos matutinos. É como a cocaína para os roqueiros. O açaí abre minha imaginação, aguça minha criatividade, acorda meu ânimo. Por isso agarro-me ao açaí como o pai ao filho pródigo.
Não conheço as propriedades nutricionais do açaí. Não conheço sua taxa calórica. Confesso que também desconheço suas contraindicações ou efeitos colaterais. Não me interessam também as lendas que cercam o produto. Para mim o açaí será sempre o banquete sagrado, acima e além das definições dos nutricionistas, dos médicos, dos pajés e dos comerciantes. Algo a ser consumido com fervor, com reverência.
No Pará, o açaí é consumido com farinha de mandioca, em alguns casos com peixe ou camarão. Confesso que esses acompanhamentos exóticos ainda não me seduziram. Mas há poucas coisas mais encantadoras do que a visão do entregador buzinando a moto na porta de casa para trazer meu açaí ou da tigela sobre a mesa, recheada de banana e granola, esperando ser devorada com a mais digna das fomes.