ÁRVORES DESFOLHADAS
A escritora Noemi Jaffe, em sua imaginação, afirma que as flores possuem uma linguagem secreta, “que combinaram jamais revelar a qualquer animal, muito menos os da espécie humana. Alguns habitantes conseguem ler os sinais que revelam códigos de boa fortuna, significando a sorte ou fado”. Parece uma coisa meio louca, mas aos escritores, poetas tudo é permitido. Acrescenta Noemi que “se o pólen de uma margarida é derramado sobre uma plantação de algodão, nos primeiros dias da primavera, o algodão florescerá alvo, vicejante e terá resistência inigualável”. Sei que há alguma superstição ligada ao tipo de planta, por exemplo, escutava, quando criança, que as lindas avencas traziam má sorte mantê-las em casa; já achar um trevo com quatro pétalas era garantia de um futuro promissor.
Um dia, em Porto Real do colégio, cidade de meu esposo, à beira do rio São Francisco, fui passear com meus pequenos na pracinha da igreja e vejo umas flores amarelas lindas. Peço ao jardineiro uns pés e trago-os para Maceió, muito entusiasmada, para plantar no jardim da minha casa e o fiz. Ao receber uma visita, ela olhou a minha linda plantação e me falou: “Arranque isto, é cravo de defundo e só chama a morte em vida”. Penalizada arranquei os pés do cravo e dei a eles o destino da morte.
Quanto às árvores, tenho o maior respeito por elas e dizem que uma das coisas importantes na vida é plantar uma. Sei que já fiz; parte de uma das missões já está cumprida. Em viagem recente,chama-me a atenção, em vários lugares dos países nórdicos, todas as árvores estarem desfolhadas, neste período de inverno, antecedendo a primavera. Mesmo assim, achei-as belas, por estarem diferentes. Seus troncos são marrons e brancos. Parecem mortas, à primeira vista, aos desavisados. Engano mesmo. Estão adormecidas, aguardando o momento de acabar o gelo e elas ressurgirem com toda a força , beleza e com suas folhagens verdes, lançando esperança de vida. Como mortas seriam arrancadas. Elas só enganam quem desconhece sua verdade. Há algumas orquídeas assim; após murcharem dão,também, a impressão de mortas e quem se arrisca a plantar, há que conhecer suas regras de viver, para usufruir de sua beleza, na época certa. Os não persistentes, desapaixonados pela espécie, desistem, perdendo do prazer do cultivo e do show de beleza que a planta promove. Faz-me lembrar a letra de uma antiga canção: “As folhas são verdes em pleno verão, no inverno se perdem e morrem no chão…”. Apenas as folhas morrem, não a planta com suas fortes raízes. Que fique a lição das árvores desfolhadas. Há momentos na vida que a gente se sente como se estivéssemos sem folhas, guardando um pouco de tristeza, de decepção, de desencanto, mas então vem um outro dia, uma outra época, uma nova estação e as energias revelarão forças para o riso, a alegria e o gosto pelo viver.