Non ti scodar di me!
Descobri letras de amor em José de Alencar. Acredito que falo por redundâncias. Amor e José de Alencar são pleonasmos. Porém, pleonasmos necessários neste mundo tão carente de romances.
O amor romântico tornou-se careta nestes séculos esclarecidos. A mulher tornou-se emancipada de tal maneira que assemelha-se muito com o homem. Como se para ser mulher moderna fosse ser como o homem. Bem sei, que se as Simones lerem este texto medíocre irão reclamar no mais alto escalão das hierarquias feministas. Outra redundância: hierarquias feministas. Desde que mademoiselle Beauvoir inseriu na sociedade intelectual dos homens franceses este termo, que nunca mais tiveram sossego as moças bem-comportadas. Daí em diante o bom comportamento passou a ser considerado reflexo da opressão masculina contra as coitadinhas cocottes.
Chega de digressão francesa. Para falar de amor romântico, perdão mais uma vez pela redundância, sim, redundância, pois escrevo sem levar em conta as ideologias do momento. Para falar de amor romântico remeto-me aos românticos do belo século 19. Remeto-me a figura do cearense que encantou esta antiga e corajosa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Terra de homens bravos e valentes. De franceses e Tamoios amigos. De portugueses com os olhos no futuro. Terra de Araribóia. Do jovem Estácio de Sá que imortalizaria a imagem lendária do santo amarrado ao tronco cravado de flechas tamoias. Desculpem-me a digressão. Mas é interessante como caminham juntas a digressão e os pleonasmos.
Uma das melhores definições sobre o mais sublime dos sentimentos encontrei nas antigas páginas do velho romântico cearense que habitou estas terras de São Sebastião nos 19. Encontra-se num pequeno conto seu, pequeno por ser conto, mas não por ser efêmero. Em Cinco minutos, o gênio de José de Alencar ultrapassa toda e qualquer ideologia literária ou filosófica. Expressa nas letras o que o comportamento humano não consegue esconder. Nem mesmo Capitu poderia embaraçar-se em demonstrar tal sentimento. Não há como esconder o amor. Porque este sentimento é superior a vontade humana. O mais controlado dos seres seria pego de surpresa chorando diante da imagem bela de sua amada.
A vida resume-se em antes de estar no amor e depois de estar no amor. Antes é vazio. É solidão. É desventura. É ilusão. É sem sentido. Depois é como passar a entender a razão de estarmos vivos. É metafísico, porque transgride as leis da física. Depois é ser fora-da-lei, pois a única lei que segue é o saciar esta necessidade vital da vida, ou seja, saciar a fome de outro, a fome de alma. Como Adão depois de um sono profundo procura desesperadamente sua costela.
Bem, o velho escritor cearense expressou-se assim: "(...)o amor não compreende esses cálculos e esses raciocínios próprios da fraqueza humana; criado com uma partícula do fogo divino, ele eleva o homem acima da terra, desprende-o da argila que o envolve, e dá-lhe força para dominar todos os obstáculos, para querer o impossível".
Bem sei, se desde o início tivesse colocado esta citação seria suficiente. Pouparia os bons amigos de perderem tempo em ler tantas digressões e pleonasmos em vão. Desculpem-me minha fraqueza e puerilidade. Mas precisava expressar-me diante de tão belas palavras que ultrapassam gerações.
O bom escritor entendia que o amor é partícula divina que tira o homem de sua condição terna e o eleva a eternidade. Amar é tornar-se eterno. Amar é imitar Deus. E por fim, amar é não mais aceitar só o que é possível, mas querer o impossível.