Suspeitos do satélite

Há pouco tempo Juremir começou a ter acessos de loucura. Reuniu a mulher e os filhos e deu a seguinte ordem: a partir de agora todos vão usar burca dentro de casa. Nada a ver com aspectos religiosos, era umbandista no ritmo. Apenas estava sentindo o olho de cima maioral vendo tudo pelos detalhes em infra vermelho. Juarez, o filho crítico olhou para o velho Juremir arremedando: pai, vou expor o meu calo para o míssil acertar nele. Isso sim é guerra cirúrgica com fogo amigo.

Não era mais ele quem via a televisão, agora era a televisão quem estava vendo tudo. A mulher não podia se despir e nem ele ficava nu diante da novela. Aquela marca d”água no canto da televisão enxerga tudo. Num reflexo rápido transmite ao satélite.

Foi o Augusto quem piorou as coisas. É certo que o satélite vê, mas ele escolheria a a casa da Juliana Paes. O miserável do Augusto jamais devia ter dito que Obama se divertia vendo as pessoas dentro de casa pelo mundo. Razão pelo qual muitas pessoas mostram tudo como normal, todos os detalhes íntimos. Dentro de casa ninguém é normal. A intimidade desse tempo havia passado para dentro dos frascos de bebida.

A paranóia coletiva inteira habitava a alma do Juremir, homem de campanha, tradicionalista. Batia na testa, gemendo: Ninguém escapa. Muito menos o Bin Laden. Se não fosse a carnificina dos atentados contra milhares de inocentes ele até perdoava o Bin Laden. Estava seguro de que o terrorista havia sido descoberto pelo satélite. As imagens dele de cuecas deviam existir apenas para o alto comando. Aniquilado porque sua mansão fortalecida no Paquistão não tinha computador, nem telefone. Quem não tem computador nem telefone e queima lixo no pátio é suspeito. Era o fim da reciclagem na casa do Juremir.

Saiu para a rua com o décimo terceiro todo no bolso retornando com um computador. As crianças gritaram de felicidade. Na casa de Juremir ninguém usaria uma máquina dessas...O satélite vê tudo.

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Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 04/05/2011
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