DIRETOR, EU?

Num desses inícios de noite, um capítulo duma novela global nos mostrava nas telas um fato muito curioso que, infelizmente, também ocorre nos entornos dos nossos dias atuais a nos fazer um alerta sobre algo muito sério.

Trata-se dum falso profissional, e no caso da novela, também dum falso estudante de medicina que se apresenta como médico, e que, candidato a se casar com a filha do prefeito da cidade, dele ganha um cargo de diretor dum posto de saúde. Supimpa!

O prefeito , muito bem representado pela atuação do grande Ary Fontoura, ali nos ensina o que é um tráfico de influência política e como, nos dias de hoje, se pode colocar qualquer um em qualquer lugar. Basta vontade política.

A novela "morde e assopra", aliás, muito interessante no seu tema principal que confronta a era dinossáurica com a mecatrônica, também é de cunho humorístico, muito divertida, embora tal proposta do prefeito eu a entenda como uma chamada séria para a nossa realidade.

Ali um dedicado e antigo médico da cidade, aspirante ao cargo de diretor do posto de saúde, (Paulo Goulart) e já da velha guarda aos olhos do falso médico, argumentava , ao malandro "recém formado" não estar ele devidamente preparado para um cargo tão sério.

Ah...ali estava o nosso humor do dia a dia.

Eu pergunto: E precisa de preparo...por aqui? Alguma coisa na saúde é séria?

Qualquer semelhança com a atual situação da saúde pública brasileira não é mera coincidência.

Um cargo de gestor, seja ele para qualquer área de atuação técnica -administrativa, deveria sim demandar por formação mínima sobre o assunto.

Atualmente a coisa está de doer.

Os cargos para gestores parecem passar de "pais para filhos" dentro dos partidos, distribuídos pelos "amigos" do peito, e não existe o mínimo critério de seleção para alguém dirigir a grande maioria das unidades de saúde, mesmo porque os que teriam a formação administrativa e o conhecimento para gerir algum setor geralmente não se arriscam a assumir gerencias dentro dum sistema de unidades caóticas, sem protocolos e sem controle de qualidade de funcionammento.

Num passe de mágicas, na calada da noite, qualquer um sai da função técnica para se tornar diretor duma instituição pública, desestruturando já o tão parco atendimento, visando apenas os honorários que quase sempre são muito além do merecimento pela frusta atuação dos ditos "diretores", e o pior, sem passar por filtro de capacidade algum, a desfilarem a incompetência arrogante pelos cargos e com todo o ganho direito de atuar nas áreas que aterrizam com páraquedas políticos. É de chorar. Um amontoado de gente gerindo "o nada" com as áreas técnicas todas defasadas!

Tal fato dificilmente ocorreria numa séria empresa privada.

E o povo...paga.

Portanto, o autor da novela deve conhecer o atual mecanismo que condecora e distribui diretorias para quem não está preparado.

Literalmente é " o morde e assopra" em cima do povo.

O tão famoso "nepotismo entre amigos", mais em moda do que nunca, correndo a olhos vistos pela saúde pública do Brasil.

Não é só na novela, não! A tragédia é mais que realidade.

Diretor, eu? Ara, muito obrigado!

O resultado é o que se vê por ai...