A morte de um fantasma
Estranho como existem anos que parecem se arrastar como uma lesma. Quase nada acontece. Outros, em compensação, são tão movimentados. O nosso ano, por exemplo, já testemunhou agitações no mundo árabe, tragédias no Rio de Janeiro, um terremoto no Japão e agora a morte do terrorista mais procurado do mundo.
Osama Bin Laden era um desconhecido até os atentados de 11 de Setembro. Então ele foi promovido ao alvo número um dos EUA. Mas foi preciso dez anos para encontrá-lo. Aliás, ele não estava escondido nas montanhas do Afeganistão, mas numa confortável casamata perto da capital do Paquistão.
Chegaram até ele rastreando os passos de um de seus homens de confiança. Não se sabe se o objetivo da operação era realmente matá-lo, mas acredito que o seja sim. Matar Bin Laden é uma espécie de vingança que todo americano sonhava em fazer com as próprias mãos. Tanto é que a notícia foi comemorada com festas por todo o país, quase se tornou uma espécie de feriado nacional.
Mas, não sejamos ingênuos: o objetivo da operação não é só "honrar" um país, é muito mais que isso, é político. A cabeça de Bin Laden foi o que Bush não conseguiu e o que o tirou do poder. Mesmo ele manipulando todo o medo e a raiva que o povo norte-americano sentiu com os atentados nada disso valeria a pena se o objetivo número um, acabar com Bin Laden e com ele com o terrorismo, fosse alcançado.
Obama se elegeu prometendo mais do que guerra ao terrorismo. Suas propostas falavam de mais empregos, mais estabildiade econômica (após a crise de 2008), mais tolerância na política externa. No entanto, três anos depois a situação não parece ter melhorado muito. A morte de Bin Laden pode salvar a sua reeleição? Penso que não. Depois da decepção com Bush, acredito que os norte-americanos estão atentos á essa manipulação da mágoa e da raiva.
E, vamos ser sinceros, a morte de Bin Laden muda alguma coisa? A AL-Qaeda continua viva, sendo a "faculdade do terror" para qualquer cédula terrorista "bem intencionada". Bin Laden não era mais o chefão, era apenas um membro de honra. Estava no Paquistão desfrutando do prestígio de ter financiado milhares de atentados pelo mundo.
O terrorismo foi vencido? Não. Ele continua vivo e evoluindo. Já existe alguns casos onde os grupos terroristas se acostumaram as "regras do jogo" impostas pela globalização: sua arma não é mais o fuzil ou o míssil, mas a opinião pública. Eles constróem sua retórica em cima das contradições e defeitos das grandes potências, atraindo com isso muitas pessoas, inclusive dessas potências. Se o terrorismo tem algo á temer esse algo seria a Primavera Árabe, como muitos comentadores tem apelidado esses movimentos contra as ditaduras do Oriente Médio. O que os árabes querem é mais liberdade e desenvolvimento. Eles mesmo estão colocando a mão na massa e não estão sendo maipulados por potências estrangeiras, como o foi depois da Primeira Guerra Mundial. Talvez esse movimento ajude a desconstruir a pobreza e o ressentimento que impera no Oriente Médio desde o começo do século XX. Talvez esse movimento realmente mate Bin Laden.