TRANSAR... ELES QUEREM MESMO É TRANSAR!
Era um dia de sol daqueles que até camelo fica suado. Uma segunda-feira. Trabalho duro como todos os dias. Fardamentos, ferramentas e um chefe corno descontando a raiva diária nos operários. Mas como de costume, Zé e Manel , sempre nas horas das refeições, se juntam e jogam conversa fora de suas vidas e da vida alheia. Chegara o meio dia:
- Zé?!
- Manel?!
Depois de algum tempo sem se verem, devido Zé ter ficado afastado da obra por conta de um acidente de trabalho, só recebendo, das gratas mãos da previdência social, auxílio doença, o famoso: “- e aí, tás trabalhando? - Que nada. Tô pelo benefício”.Ambos, hesitando admiradamente, falam um com o outro. Se reconhecem e voltam à saga cotidiana do trabalhador nosso de cada dia.
E no descanso da labuta, segue a prosa:
- Chega, meu chapa, entra aqui atrás pra pegar logo o bandejão. Não tem problema não, né Chico, se Manel furar a fila aqui na sua frente?Pergunta Zé.
- Problema tem, sabe?!Mas entra aí, Manel.Fique peixe. A gente não vai brigar por isso não. Ou vai?! Diz Chico, com sarcasmo e ironia, quando esperava sua vez atrás de Zé na fila da refeição.
Os dois – Zé e Manel – pegam suas bandejas e vão pra última mesa do refeitório comer e papear. Falam sempre sobre aquelas velhas coisas que homens adoram falar: futebol, religião, trabalho, política... Até que tocam no assunto principal: Mulher. Dizendo Manel:
- E aí, Zé, você já pegou a gostosa da Ritinha? Esse fim de semana teve forró lá pelo seu pedaço que eu tô sabendo. Ela não tava por lá?
- Ora se não... Tava sim. E você me conhece, sabe que eu não iria perder uma mulher boa daquelas, velho?! Peguei... E peguei bonito! Responde Zé.
- Pois não é, homem. Aquilo é um pecado, rapaz! Aquilo não é uma mulher, mas um bife de prazer ao molho de tesão!
-É mesmo. Aquilo sim é um caldo de sedução; um PF de orgasmo! Mas e aí, Manel, nesse tempo sem a gente se ver, você pegou alguém ou ficou fazendo amor o tempo todo com a sua mão na frente do DVD? Zé lhe Pergunta sorrindo.
- Espera, mas você não havia quebrado o braço, Zé?
- Conversa é essa! Eu forjei a lesão. Engessei, mas com dois dias tirei o gesso. Você sabe, “chapéu de otário é marreta”.
- Sim, mas voltando ao assunto... Rapaz, sábado, eu fui ao pagode na esquina lá de casa. Conheci Betinha. Uma tremenda loiraça. Mó boazuda!
- Mas e aí, pegou?
- Que nada. Dancei umas três músicas com ela e a chamei pra ir a minha casa, só que a infeliz, disse que não era fácil, nem era aquilo que eu estava pensando dela. E disse: tá pensando que sou qualquer uma, é?
- Vacilou, meu chapa! E riu de canto de boca da cara do Manel.
- Brother, eu não achava nada daquilo sobre ela. Só queria ficar com ela a sós na manha, tá ligado?
- Cara, mas não é isso. Zé, as mulheres pensam que nós giramos em torno de suas vaginas. E que nós homens, depois que fazemos sexo, achamos que elas não têm valor algum. Elas pensam que transar diminui a dignidade de alguém.
- É mesmo, né Zé?
- É, sacana... Estou lhe dizendo. Vá por mim. Os cristãos leem na bíblia que virgindade é coisa sagrada. O padre diz isso nas missas de domingo, e não dá outra, sexo vira o tabu da eternidade. Berço da moralidade. Como se aquele que transa muito e com muitos fosse uma espécie de canalha e sem vergonha. Cara, sexo é vida, orgasmo, prazer, calmaria, paz... Desde que haja prevenção, cada qual que coma quem quiser. Pra mim, aceitar o senso comum e as ideias criadas pelo poder da política e das religiões é uma coisa impossível!
- Concordo. Mas na missa o povo tá sóbrio; no pagode, o povo dança bêbado.
- Verdade, ó... Graças à bebida as pessoas podem gozar em paz!
- Né isso, velho! Graças à bebida o orgasmo pode saltar ileso de dentro da gente. Brindemos!
Rindo felizes, os dois brindam com suco de maracujá em copo descartável. Como dizia Henrique Diógenis: “a felicidade é momentânea e é tão simples quanto um prato de feijão com arroz na hora do almoço!”
O papo continua:
- Então quer dizer que você comeu a Betinha?
- Nada. Betinha naquele dia cismou de não beber coisa nenhuma. Comi Aninha, que estava afogada com a cara no conhaque.
- Beleza. Vou nessa, Manel. Chegou a hora do trampo.
- Também vou, Zé. E ainda vou passar a semana toda fazendo hora extra. Nesse sábado que vem terá pagode novamente. Quero uísque e alguns maços de cigarro. Não aconselho pagode, uísque, nem cigarros a seu ninguém, mas a vida é minha e o que levo da vida, é a vida que levo.Escutei não sei quem lá falando isso e achei massa, ó!
- Vai se foder, galado! Vou nessa.
- Vai você, folote!
- É... Espero que em breve eu foda mesmo! Exclamou Zé.
- Falou, irmão! Se despede Manel.
- Falou, cumpade! Se despede Zé.
Se despedem e voltam à dura realidade ...Ao duro trabalho de cada dia!
Com isso, Chico, que sentava-se à mesa da frente, ligado na conversa dos dois, chegou à seguinte conclusão:
O homem é mais cafajeste, porém mais sincero: ele, quando quer sexo, oferece um drink ou a escravidão do casamento; já a mulher, no desejo doentio de ter uma lua de mel, quando quer sexo, prefere que o homem ofereça um tal “negoço” chamado amor, uma tal coisa chamada atração, paixão, sei lá... Na verdade, sabe, elas querem qualquer ilusão que a engane sobre a vontade do homem não ser a de logo levá-la pra cama! Mas no fim de tudo, assim como o homem, elas querem mesmo é transar. E fica logo tudo resolvido, pois o homem também gosta pra caralho desse joguinho hipócrita da sedução!
E eu, que nada participei dessa gabolice toda, termino essa prosa aí de cima com estes versos aqui de baixo:
Não tenho a mínima dúvida, que,
O pudor
É a espécie da hipocrisia usada para fingir os sentidos que são inevitáveis
É o desejo reprimido por uma moral que é sempre esculachada
Quando a vontade humana consegue fazer às escondidas
Tudo aquilo que não consegue fazer a olho nu
O pudor
É quando entre as quatro paredes da consciência
Acontece o espancamento das ambições do prazer
A sabotagem dos instintos
E a ilusão dilacerante do apetite sexual!