SAUDOSA DO COMUNISMO
Rússia me passava ser um país bem distante, possuidor de cientistas brilhantes e que conseguiram enviar ao espaço a cachorra Laika num satélite e o sputinik para descobrir os mistérios no céu. Escutava também horrores sobre o fato de quem era comunista. Contava-se, na igreja católica, que os comunistas comiam criancinhas e os jogadores quando perdiam uma partida de futebol no exterior, ao voltarem, eram todos fuzilados. Qual a criança que ouvindo essas histórias macabras não temia o comunismo? Só na faculdade, estudando sociologia, é que fui descobrindo os pilares dos regimes políticos; a repressão às idéias comunistas era terrível e a história brasileira está aí para contar a represália desumana que se fazia com os presos políticos,simpatizantes e atuantes do regime comunista, principalmente com os estudantes que não possuíam dinheiro para buscar asilo em outros países. Vou à Rússia, vinte anos após a caída do comunismo. Visito St. Petersburg, cortada por majestosas pontes,mas me detenho em Moscou, encontrando uma cidade cosmopolita, dinâmica, bela, organizada, com avenidas largas e limpíssimas. Leio na Folha de São Paulo (abril /2011) uma reportagem sobre Moscou, falando dos seus engarrafamentos e da polícia corrupta. Não estranhei os engarrafamentos, pois uma cidade do porte de São Paulo, não é de estranhar que existam, mas nada que possa ser considerado o trânsito caótico. A cidade passa riqueza, com inúmeras lojas de carros caríssimos, boutiques de alto luxo, shoppings com belíssimas lojas. Vou passando a minha visão subjetiva do que vi e o que escutei da professora doutora em Linguística, da Universidade Pedagógica Estatal e do Patrimônio Nacional, guia do grupo, Irina Starkova. No país, desde 1960, não há analfabetos. Há escolas públicas que fornece educação de melhor qualidade e há as particulares. Nas públicas, o governo e a clientela controlam a qualidade do ensino e na rede particular quem manda é a clientela. O mesmo ocorre com a saúde. Há médicos particulares , mas o melhor atendimento fica na rede pública. A cidade de Moscou é dividida por distritos e há controle da educação, saúde e outras áreas. Muita coisa boa ainda existe como herança do comunismo. Na época, as residências eram as mesmas para os garis e para os médicos, por exemplo. Todos tinham moradias dignas. Mostra-me com orgulho os inúmeros blocos de apartamentos, herança residencial do comunismo. Pergunto se este bairro é popular. Diz-me que não. Com exceção do centro histórico, os bairros se assemelham. Um fato me surpreendeu, foi dizer que a média de vida caiu com o capitalismo. Não há desemprego e a média de salário mínimo é de 800 euros. No comunismo os idosos e os jovens tinham o mesmo direito. No papel tem, mas se há um jovem e um idoso disputando um emprego, “quem você acha que fica com o trabalho? Isto é o capitalismo”. Com o capitalismo as pessoas adoecem muito, ficam estressadas porque perderam a segurança em ver o futuro. Digo que percebo que as pessoas fumam demais. Ela me diz que talvez fumar mate menos do que o estresse. ”Então é melhor fumar!” Ao perguntar sobre as drogas, fala-me que infelizmente está crescendo o consumo, como em todo o mundo. O metrô é belo, como na foto, em uma das suas maravilhosas e decoradas estações. Começou a funcionar em 1935, com treze estações. Hoje são 148. Muito limpo e não há lixeiras, para que sejam evitados atentados. A cidade possui inúmeras igrejas, predominando as do catolicismo ortodoxo,como a da foto. No comunismo não se proibia a prática das religiões, só não admitia a construção de novas igrejas. Algumas pessoas, do meu grupo de vinte alagoanos, comentam que os russos são sérios e fechados. Não vi isto. Percebo pessoas que vivem em agitação, como em qualquer cidade grande e, como tal, aproveitam o metrô para ler, ou dar telefonemas.Nas ruas o ritmo é frenético. Tudo me pareceu normal. Fiquei encantada com a cidade. À noite suas luzes dão um toque especial. Não há como não ficar embevecida diante de tanta iluminação e beleza.O grupo brincou:A cidade é iluminada porque eram obrigados, pelos comunistas, a acenderem todas as lâmpadas em seus apartamentos, seus prédios, nas ruas e o hábito pegou. A guia ri e diz que não é verdade. Todos gostam de ter a cidade com muita luz. Concluo que luz e beleza encantam e foi assim que vi Moscou.