ANTES DO PISCINÃO DE RAMOS.

Eu era criança, mas recordo bem aquele dia, não sei qual era o mes ,mas sei que foi no verão porque estava fazendo um calor insuportável no Rio e toda molecada estava cheia de brotuejas.Alguém estava vendo no noticiário do meio dia que Copacabana lotara,todas as praias estavam cheias,isso significava ônibus lotado,crianças chorando,muvuca na areia,etc.

-Nem pensar!,vou dar banho de mangueira nas crianças por aqui,se a praia não tivesse poluída...

quando podíamos ir para praia era uma festa,mas colocaram uma placa amarela com letras vermelhas bem na entrada da praia de Ramos dizendo tava poluída,quem tinha dinheiro ia pra piscina do Iate Clube de Ramos,mas não era o nosso caso,então ficávamos pulando das rampas e barracos na maré.

O ano era oitenta e sete e naquela época nem se sonhava com um piscinão como o que tem por lá hoje,a favela era animada,muita gente boa,dona Creuza que costurava fantasias pra Imperatriz Leupodinense, dona Iaci que era Baiana,Seu João sem braço que consertava bicicletas,Seu Abilho comandava o bloco da favela.

Minha mãe era conhecida como Paraíba,e nós como filhos da Paraíba,achavam ela uma mulher muito macho porque ela pintava casa,consertava coisas,trocava o botijão de gás, as lámpadas,tudo sozinha,mas desta vez a Paraíba resolveu fazer uma coisa pra deixar todo mundo chamando ela de doida.

Foi por causa do calor, das brotuejas da gente, ou porque a mangueira tava furada, não sei, minha mãe resolveu fazer uma praia!

As vizinhas diziam:

-Tá doida Paraíba?,não tá vendo que areia pesa?,vai trazer areia da Praia pra maré na pá?

Minha mãe com o costume de dar respostas ,sacudia os cabelos bem tratados na Hena e dizia:

Sô besta não!,vou fazer praia pra voces desfrutar?,vou nada! ,vocês vão comigo buscar areia,anda ,pega a lata que a Gerson Ferreira não é tão longe assim!

No começo pouca gente queria ajudar,praticamente minha mãe e a meninada da favela, mas aí os rapazotes viram...e as mocinhas queriam estar de dentro daquela muvuca,aí algumas mulheres também entraram e até alguns pescadores que estavam costurando redes ajudaram.

No fim da tarde a maré tava irreconhecível,com areia branquinha no lugar da terra preta,deu pra terminar de fazer a praia antes do sol se pôr...como eu falei, eu era pequena ,não lembro os detalhes, mas lembro que no outro dia acordamos cedo pra ir à praia, à nossa praia!, lembro que lotou de cadeiras coloridas e meninas pintando os pelos com água oxigenada,lembro que eu muito orgulhosa de ser filha da Paraíba ficava dizendo pra todo mundo:

Esta prai é da minha mãe, foi a gente que fez.

vinha(flavinha)
Enviado por vinha(flavinha) em 02/05/2011
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