O TEATRO DE CADA UM
O TEATRO DE CADA UM
Lá no caderno capa-dura de DEUS está descrito todo o enredo da novela e/ou peça de cada um de nós. Quem será galã, quem será a heroína, a mocinha, o parceiro, a tentação de amante, os filhos, os pais, os amigos e os adversários.
Quem contracenará conosco como coadjuvantes e atores principais.
Figurino lavado, engomado e perfumado; em fim está tudo dentro dos conformes.
O cenário pronto e decorado, com mobiliários e apetrechos adequados ao nosso papel.
As falas decoradas e repassadas.
As câmaras estão postadas nos ângulos definidos e ligadas na rede elétrica.
Os contra-regras com pranchetas nas mãos.
Os câmeras mans, muitas das vezes anjos e em outras demônios, estão postados atrás das câmeras, só esperando a ordem de: AÇÃO!
Mas aí entra o efeito borboleta.
Por dá cá um acento no “Í” não queremos mais ser atores. O livre arbítrio leva-nos a pedir a DEUS para sermos piloto de avião.
DEUS, todo paciente vai lá no caderno de capa-dura, pesquisa por ordem alfabética; e na página que nosso nome é destaque ELE passa um “X”. Abre uma página em branco e começa: “Meu filho (coloca nosso nome) pilotará no começo um teço-teco de uma companhia de taxia aéreo, depois um bimotor; e quando tiver experiência pilotará um...”
E novamente o efeito borboleta.
Na primeira aula de instrução para vôo, resolvemos que queremos mesmo é ser homem-bomba. Para morrer de uma vez sem o sofrimento.
DEUS pacientemente vai lá no caderno capa-dura risca nosso segundo esboço de que seriamos gente.
Justificamo-nos que foi o livre arbítrio.
DEUS resolve que seremos um louva-deus; aquele inseto parecido com um graveto.
É por isso que estou aqui enchendo o saco de cada um de vocês leitores.
É que de última hora pedi a DEUS para me livrar de ser comido pelos pássaros, já que louva-deus é o alimento preferido de quase todas as espécies de pássaros.
E mais uma vez fui agraciado pelo Criador!
E nosso teatro não ensaia a peça nunca.
Morremos sem termos sido atores.
Mas estamos contentes: fomos platéia. Vaiamos até secar a garganta.
E Gorobixaba segue adiante, pois aqui o tempo não existe.
(maio/2011)