O reino da Praça
Quando a manhã nasceu, fui até a praça ilhada no mar de asfalto.
Ela era linda, verde e leve. Pássaros e plantas harmonicamente no ambiente valsavam. E eu, andando na calçadinha de pedras, miro um banco verde e velho, com algo dormindo por cima dele. Um mendigo.
Nada ali parecia importar a ele, o mendigo que eu via cheirava a flores. Com roseiras abraçando-o e o seu manto de relva forrando o chão, parecia dormir profundamente. Com sua roupa suja, com seu cabelo desgrenhado, totalmente sujo na verdade, mas dormia calmo em meio aos carros, e gritos, e tempos atrasados, milhares de buzinas, mas nada parecia lhe afetar.
A sombra de um galho protegia os seus olhos, os pássaros cantavam de um modo doce embalando o seu sono, este parecia ser o único som que podia ouvir.
Estorvo da sociedade, passivo de tantas críticas, quando na verdade os hipócritas não admitem a inveja que sentem daquele filho da praça. Mesmos hipócritas que lutam para viver com todo o seu dinheiro e conforto, e loucura, a custo de que meu Deus?
Não admitem muitos, que trocariam ao menos um dia de vida para deitarem-se um pouco naquele banco, a sentir aquela calma, que já devem ser se esquecido de como deve ser. Então reagem como crianças: gritam, criticam, xingam, diminuem, para tentarem se convencer de que suas vidas são infinitamente melhores do que aquela, para esquecerem daquele sentimento que nasce por um ser tão ignóbil, inveja?
Mas desejam aquilo sim, seria o maior presente se alguém chegasse em alguma dessas criançonas e lhe afagasse um pouco a cabeça, lhe acalmasse o nervos, levasse-a até o banco da praça e, mesmo que duro, não ligaria, porque só queria que o barulho daquelas buzinas parassem e ,o que lhe ensurdecesse, fosse agora o canto doce dos passarinhos, ele só queria que o cheiro de fumaça cessasse e, o que lhe sufocasse fosse agora o aroma leve das flores que o abraçavam, e que se deitasse sem ligar pra nada. E que finalmente dormisse, dormisse realmente, simplesmente isso.
É o que eu vejo simples mendigo ser possuidor, do maior desejo da sociedade. E eu vou seguindo, até que me vem uma pancada, como um balde de água fria, um soco na boca do estomago, um despertar. Eu percebo que o mundo em que eu vivo é fora do reino da praça e ele não me espera enquanto me chama do seu jeito rude.