Urubus no Coqueiro

Por esses dias, início da alvorada, levantei-me da cama e, depois de cumprir minhas missões habituais, caminhei até a porta dos fundos que dá para o quintal. Lá chegando, sondei a mangueira na busca de frutos maduros ou caídos ao chão. Mas, nada de mangas.

Ainda sonolento, algo despertou-me: um urubu que voava alto e solitário por sobre o quintal. Pensei comigo mesmo: "O que essa ave procura tão cedo e sozinha?"

Depois de várias voltas no ar, pegando carona nas correntes, meu amigo carniceiro pousa sobre as folhas de um coqueiro e junta-se a mais colegas de espécies. Uma alegria só, pulos para lá e para cá, tombos, empurrões, uma festa. E isso me fez recordar o passado!

Supus que aquela alegria toda só podia ter uma razão: A Liberdade, que como já disseram, “[…] é um sonho que a alma humana alimenta, que não há quem explique e não há quem não entenda”. Pois é, até mesmo os urubus são livres!

Quanto às recordações do passado, lembrei-me daquilo que perdi, daquilo que me foi tirado graças a atitudes impensadas e buscas pérfidas e mesquinhas de interesses efêmeros e vãs luxúrias! Achei dentro de mim o vazio e o esquecimento, o oco soar de um coração que agora bate por conveniência, apenas para manter o estado fisiológico homeostático de um morto vivo.

Quem me dera agora, como os urubus, ao menos ter a liberdade de reunir-me sempre que achar cabível aos que genuinamente amo independentemente de minha situação de espírito ou das circunstâncias da vida, mas até mesmo isso eu joguei fora!

Quanto às mangas, enquanto escrevo uma acaba de cair e espedaçar-se, assim como eu me espedacei graças a minha drástica queda.

Sábios e felizes são os Coragyps atratus, que são livres para voar e que livres voam!