Ultimato

De início aporrinhaste-me, enlouqueceste-me, amargaste a minha boca com o adstringente sabor da esverdeada bílis do ardil que desfez as lipídicas convicções de meu idear. Depois, mais uma vez te achegaste com secreções lacrimais dimanadas das janelas do teu ser e impetrações de escusas anistias, como quem anseia copiosamente profusas porções de doçura. Não percebeste ainda que sempre que ages assim fazes-me despedaçar, sufocar até a alma, tragar teu veneno e senti-lo apossar-se de mim até o ponto de fazer-me estender-te a mão?

Desse modo, essa relação tem cada vez mais assemelhado-se a um córrego raso em época de estio, com pedras pontiagudas que incisam, que talham os pés dos desavisados andarilhos. Assemelhado-se a um bando de ratos famintos carcomendo, sorvendo e derribando gradativamente nosso quimérico castelinho de queijo.

Há palavras, períodos, orações inteiras que se esvaem em meio a meios gestos bradados e a gritos sussurrados, a disfarces, mentiras simples e não percebidas ou arquitetadas e bem narradas para manipular o dolo e redirecionar a culpa.

Não venho com essas palavras reivindicar a inocência ou dizer que estou certo, eximindo-me de responsabilidades. Pelo contrário! Sei o quanto sou e estou equivocado em muitos aspectos e o quanto já pus abaixo com minhas próprias mãos. Só achei que já havia passado da hora de advertir-te que por mais que a tensão superficial mantenha o vinho certo limiar acima da borda do cálice, a última gota o faz transbordar como um fluxo de sangue que não pode mais ser delibado.

Atente! Nosso episódio é uma brecha que escancara-se para olhos, mãos, línguas e armas alheias e curiosas. Não sei se esses são os vocábulos adequados ao emprego, contudo, são os que encontro no momento, e espero que tenha entendido o ultimato!

Atente mais uma vez! Só digo isso por que acho que amo… Na verdade, há uma face da moeda chamada decoro e outra chamada felicidade! Infelizmente, tem-se que escolher uma delas.