DESAFORADA PAIXÃO

Ele falou ”Sorri em completa dita, porque havia encontrado a mulher perseguida em minhas fantasias desde a adolescência e buscada em cada corpo ao longo de muitos anos: a amiga, a irmã, a amante, a companheira”. Assim foi em “Do amor e da sombra”, de Isabel Allende e ,também , em “Amor nos tempos do cólera” de Gabriel García Marques, este colombiano de Arataca e que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Uma professora me conta que uma garotinha de oito anos está apaixonada por um garoto da mesma idade. Falou para namorar com ele e foi recusado o convite. Eles são coleguinhas também do transporte coletivo que os leva ao Colégio. A menina não parava de chorar. Era sofrimento mesmo. Vai ficar na história dela, com certeza, mas todas as paixões passam, embora deixem marcas. Leio na Veja que “A ciência conseguiu finalmente provar algo que a literatura registra desde sempre: um coração partido causa dor física no ser humano...A rejeição amorosa ou o fim de um relacionamento ativam no cérebro a mesma região responsável pela sensação de dor no corpo”. A descoberta deve-se a pesquisadores americanos, comprovando a teoria da conexão, através de ressonância magnética. Conheço dois senhores que tiveram uma paixão atrevida, desaforada na adolescência. Vez por outra comentam, longe dos ouvidos das esposas, o quanto desejaram ficar para sempre ao lado das escolhidas. Um deles descreve com minúcias o momento de ter se sentido encorajado para falar do seu desejo, mas o destino levou a garota para longe. Os anos passaram, mas a marca da paixão ficou registrada no tempo. Era desaforada, atrevida, compulsiva. Houve sofrimento físico pela perda, sem mesmo ter se concretizado o namoro. Era tudo platônico e sua mente era fixada por um sentimento de grande afeto, desejando estar perto da garota e ter contato físico natural em um namoro. Fala dessa antiga paixão com puro carinho. No fundo, quem sabe, deseje resgatar o que ficou perdido lá atrás no tempo, mas o mundo não parou e no hoje seria impossível pelos caminhos escolhidos.

Conheço uma amiga que diz:”Só sei viver apaixonada. Quando estou só é como se vegetasse”. Fala-me das alegrias que há nos encontros e dos sofrimentos com as partidas, das incertezas naturais em qualquer relacionamento. Vive uma paixão desaforada; é bom e ruim. Às vezes tenta se desligar e não consegue. Sua energia é alimentada pelo pensamento recorrente.No estado da paixão chega a enxergar anjos querubins e serafins. Um dia sabe que vai passar, mas no momento não quer que passe. Há tantas histórias de paixão na sua vida e tem muito o que fala, como de amor morto, de amor traído, de amor incerto, de amor desejado. Vi essa paixão extremada no filme “Paixão além da alma”. A obsessão da escritora pelo marido era tamanha que preferiu morrer a perder. Torço para minha amiga ter lucidez, embora se sabe de muito que a paixão às vezes, ou quase sempre, cega.Torna-se irracional.O desejo fala mais alto. É assim! Entretanto, se há antecipação ao sentimento do que poderá ocorrer minimiza-se a conseqüência, quando a realidade penetra. O coração partido será mais rapidamente consertado, embora não há como se evitar os sofrimentos físico e mental.

Quem não viveu uma paixão desaforada,inconveniente, desmedida, descabida, ilógica, atrevida e insolente? Quando se está vivenciando é uma coisa muito boa. Surge sendo mais forte de um lado e, geralmente, pela imaturidade dos envolvidos, há possibilidades de sofrimento e tristeza, embora há casos que a paixão se transforma em algo duradouro.

Edméa
Enviado por Edméa em 01/05/2011
Reeditado em 01/05/2011
Código do texto: T2941796