Eu sempre acabo revivendo de alguma forma momentos que já passaram; principalmente aqueles que me machucaram ou que apenas não saíram como eu planejava. Meu coração é um colecionador de dores e como todo colecionador, ele é cuidadoso e apegado e sempre que bate um vazio, ele as espalha sobre o chão para poder apreciá-las, recomeçá-las e fantasiar um final feliz para cada uma delas…
 
Ao que parece… eu estou sempre recomeçando dentro de mim.
 
Já tentei fugir disso, mas não adianta, é algo que está em mim, que me acompanha para onde eu vou, como quando eu releio algum livro e algo em mim acaba sempre acreditando que certas coisas ainda podem mudar… Parece que eu nasci mesmo é para acreditar e o fim para nunca mudar e esse é sempre um processo atemporal, doce e com um gostinho amargo no final. O problema é que fantasiar demais cansa e sonhar demais o que desejamos sem realmente vivê-los, é como por aquela música que tanto amamos como despertador, onde passamos a odiá-la mortalmente e aos poucos, eu tenho odiado os sonhos que vão nascendo em mim.
 
Como nos livros da minha estante, eu sempre acabo revivendo momentos e sentimentos achando que algo pode mudar e é assim que tenho me sentido, um livro numa estante, onde parece que eu estou sempre revivendo e nunca vivendo… Eu quero algo novo, eu quero verdades reais para viver, o problema é que é difícil saber o que é a verdade de fato... Num todo, ela não dura mais que um momento ou um ângulo de visão e parece que para onde eu olho, ela já passou ou já se transformou em mentira e ao que parece, o meu coração adora uma mentirazinha que seja capaz de enriquecer a sua coleção!
 
Coração tolo, aquilo não é amor... Sossega, PELO AMOR!
 
Já nem sei quantas vezes eu já repeti isso pra mim mesmo, confesso que eu já me cansei disso e por isso, de agora em diante, sempre que eu percebo já ter vivido algo que está querendo se reiniciar, eu corto logo o filme, pois eu já cansei de reprisar os mesmos erros e as mesmas frustrações, e em meio a isso, acabar transformando tudo isso em roupas, pois é isso o que eu sempre acabo fazendo e o meu guarda-roupa já não têm mais espaço para tantos erros e para tantas frustrações…

Acho que tanta frustração acabou pesando tanto, que enfim passei a sentir os pés no chão... Agora eu tenho respeitado mais aqueles pequenos e quase imperceptíveis sinais de alerta, não permitindo mais que me enrolem... se eu vejo que não é para ser, eu já desenrolo logo, chega de virar páginas achando que algo pode mudar... Já perdi tempo demais com isso e eu ando num processo de reconciliação com o tempo e principalmente comigo mesmo.  Está na hora de organizar o meu guarda roupa e jogar as coleções do meu coração fora... E para evitar um marca-passo, daqui por diante, só viverei do marca página em diante.

Me organizar nesse mundo bagunçado está cada vez mais difícil.



(Felipe Milianos)
Imagem via Tumbler/Google

Felipe (Don) Milianos
Enviado por Felipe (Don) Milianos em 30/04/2011
Código do texto: T2940689
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