O desabamento das igrejas
foi assim que tudo começou. Eu estava chupando laranjas no meu quintal, aonde os pés dessas frutas são plantadas e colhidas, por mim e bicadas pelos passarinhos que nao pagam impostos mas nao sonegam sua beleza ao pular nos ramos verdes, longe dos espinhos. São livres e devem continuar assim. Aí vem alguem correndo gritando que todas as igrejas no mundo desabaram......perguntei qual era o problema,pois nunca tinha visto uma ser erguida suficientemente forte pra permanecer de pé, por muito tempo. Ele disse que todas vieram a baixo, derrubadas pela fraquesa dos homens. As doces laranjas de casca amarela, estavam maduras eu nao tava a fim de sentir a amargura dos tolos que se curvavam à própia irracionalidade.
Fui ver de perto, a coisa. O clero todo corria, feito carneirinhos nos pastos, fugindo do lobo mau. Primeiro os padres se vestiram de preto desbotado, que dava a impressão de estarem se desgastando com a situaçao. Depois os cardeias, com vestes vermelhas pareciam chapeuzinhos, correndo como lobos....grande coisa. As praças estavam lotadas, de lixo reciclável e de oradores de todas a cores, usando gravatas nos pescoços. .....grande coisa. Isso tudo já era de se esperar.... os donos do salvo conduto das almas corruptas rs
Alguns apontavam seus dedos buscando culpados. Outros inocentes agonizavam debaixo dos destroços, duros, restos dos tijolos de barro vermelho, comprado por fiéis nas olarias, pagos com o suor de gente honesta.
Aí vieram os jornalistas, de todo o globo , pra noticiar a desgraça....só nao vi o macedo, que com certeza batia seu record de voos pra fora do país, mas tudo bem, ele pode ser grande coisa....
Encontrei um banquinho de praça, ainda intacto, que se fosse nossa nao seria tão suja, cheia de chepas de cigarro e a grama alta, precisando de cuidados, como tudo em volta dela. Menos eu, que me inspirava com as ervas daninhas..
E as sirenes das ambulâncias ligadas no talo, davam sinais de que a coisa pirorava. Vi fumaça, sem fogo, talvez tivessem sido mortos todos os fumantes do planeta no mesmo lugar, isso seria bacana, evitariam um efisema coletivo.
Daí fiquei pensando, no meu pomar, aonde eu divido minhas laranjas com os passarinhos, que voam pra todos os lados livres,que nao semeiam nem armazenam suas riquezas, pra depois desabarem. Levantei do banco e deixei apenas meu rastro, que mostrava que eu nao caminhava pra foqueira da heresia, mas pra construçao das minhas idéias, talvez frágeis, mas com certeza longe da destruiçao. Parei num barzinho pra comprar uma garrafa de água, e o dono do bar me perguntou se eu tinha sobrevivido a queda das igrejas,...eu disse que nao. Fui andando tomando da garrafa, pensando como seria se as igrejas no mundo fossem feitas de palha de milho, ordenadas por viscondes, sem lobos apenas o Lobato. Monteiro seria o nome ideal, pra sitiar os homens bons. ..... O sol brilhava forte e eu com sorte cheguei em casa a tempo de ver ele descendo jundo ao morro, aonde nao via sinais de fumaça nem fogo,mas um brilho alaranjado, indo pro vermelho. As nuvens ficaram parecendo anjos, que jogavam suas arpas no mato, como se estivessem de saco cheio de tanta bajulaçao.,,,
E eu continuo do mesmo jeito.Descalço, mas caminhando com as própias pernas. Entrei em casa,mas antes limpei meus pés no capacho, pra evitar que a sujeira siga adiante e fique do lado de fora.