Ser Vertical (Um adeus para Mel Redi)
Este texto abaixo eu escrevi ontem pela manhã e publiquei em meu blog! Agora ele ficará sempre em minha mente como uma homenagem para a minha amiga Mel Redi, que agora se encontra em outro plano!
Sinto imensamente...
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Ser Vertical
Sempre imaginei o livro como um sinônimo de vida, considerando cada dia vivido como uma página da grande obra que cada um de nós deixa na sua passagem por esta terra. Obviamente que alguns deixam alguns poucos capítulos, enquanto outros chegam a “escrever” mais de 36 mil páginas de história pessoal, partindo dessa analogia.
Diferente dos livros, porém, nossas histórias não podem ser editadas e muitas vezes não tem um planejamento para acontecerem e devido a essa improvável sucessão de fatos tenho certo fascínio por seus andamentos, uma vez que é quase certo que seremos surpreendidos com o seu desenrolar.
Quando nascemos e o nosso livro é aberto e magicamente suas páginas começam a ser fabricadas, nossos editores diretos são nossos pais. Poderíamos dizer então, nesse momento, se fôssemos dar um nome para cada fase de nossas vidas, que quando nascemos passamos pelo capítulo da Dependência Total ou para ser mais romântico e de encontro com os meus mais profundos desejos, esse capítulo podia ser chamado simplesmente de Período do Amor Maior.
Ao começarmos a engatinhar e a andar, que tal chamar essa passagem de Terra das Travessuras, pois ainda com o amparo e supervisão dos nossos pais, que agora deixaram o cargo de editores e assumiram a função de professores, acabaremos por aprontar poucas e boas, isso é fato. Assim que nos estabelecermos concretamente como um ser vertical, automaticamente entraremos no capítulo da Terra das Travessuras II – Alguém Me Segure!
Num belo dia iniciaremos o aprendizado com outros professores, os escolares, que virão paralelamente com os da vida, que serão os outros seres verticais com os quais começaremos a interagir, então podem chamar esse capítulo de Momento da Formação.
Passaremos então por uma longa fase onde em algum momento estaremos aptos para nos tornarmos autores e editores de nossa própria história, que podemos chamar de Era da Autoconfiança. É nessa rica e prazerosa fase que interagiremos fantasticamente com outros seres, onde começaremos a deixar que as nossas histórias sejam conhecidas por eles e ocorrerá literalmente uma troca de experiências, em todos os sentidos. O ápice dessa interação nos levará direto ao próximo capítulo: Meu Primeiro (Único, Eterno, Derradeiro) Amor!
É claro que depois, quase que imediatamente, surgem outros longos ou curtos capítulos chamados de Agora Sim Meu Amor Chegou ou Um Dia Eu Acerto, ou ainda Ninguém Me Ama. É nessa confusão que muitos outros “livrinhos” são confeccionados em nove meses...
Mas pode ocorrer também que de toda essa interação surja um novo capítulo, que também não se pode deduzir a extensão do mesmo e que será chamado por mim de Caminho da Forca, pois engraçadinho quanto a esse assunto serei sempre, mas podemos chamar amorosamente esse capítulo de Vivendo a Dois.
Voltemos no tempo desse nosso ser vertical em formação, lá para os seus primeiros editores. Agora, com a formação de uma família imediatamente assumiremos esse papel e além de ajudar a produzir uma outra linda história, não poderemos jamais de esquecer da nossa própria e é justamente nesse detalhe que reside bruscamente o término desse capítulo, dando lugar para um que pode ser escrito várias vezes, conhecido por nós como Recomeçar.
Mas estamos aqui falando de uma história que não seja tão dramática, se é que isso existe hoje em dia, mas seguindo nessa direção, ao passarmos da fase de editores para professores, depois para “amigos para sempre”, chegaremos ao capítulo Asas da Liberdade, no momento em que os seres verticais que amamos abrem suas abas e voam, rumos às suas próprias conquistas, desafios, continuando assim a literatura que se tornou suas vidas. O que me veio à mente nesse momento é todo um novo capítulo chamado Paz ou até Dever Cumprido, interrompido bruscamente e novamente pelo capítulo Netos! Lá vamos nós de novo arrancar das prateleiras da mente nossos uniformes de editores, professores...
Enfim, quando retomarmos o capítulo da Paz ou Dever Cumprido, que ironicamente poderíamos chamar de Dever Comprido, uma nova fase se abrirá em nosso caminho, que para alguns poderá ser chamada de Merecido Descanso enquanto para outros será conhecido simplesmente como Já, e ainda para outros, aqueles que citei lá no primeiro parágrafo e que escreverão mais de 36 mil páginas de histórias, verão esse capítulo como Nunca!
Nesse momento nossa capa já fora de moda, ultrapassada mesmo, estará toda amarrotada ou meio que amassada, querendo desbotar aqui e ali, e queiram ou não queiram é o momento de começar a redigir um último capítulo, o da Despedida.
Para onde a nossa história será enviada para arquivamento ou uma continuação, eu ainda não sei. O que sei com toda a certeza é que se acabou toda a redação da passagem desse ser vertical por essa nossa vasta terra, mas é claro que quando isso ocorrer e por fim o nosso livro da vida se fechar, ele estará disponível em alguma estante desse nosso amplo Universo, principalmente na estante da mente de todos os personagens que fizeram parte do seu enredo.
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