Bullying, o grande culpado!
“Isso é bullying”. Ouvi essa fala recentemente do apresentador de televisão Sílvio Santos que ao chamar uma moça ao palco de seu programa, anunciou que não falaria da mesma forma, como sempre fizera, pois agora isso é bullying.
Quem nunca ouviu histórias de seus pais e avós sobre situações de humilhação vividas por eles na infância. Seja por morar num bairro distante, seja por ir à instituição de ensino todos os dias com o mesmo chinelo, seja pelos óculos “fundo de garrafa”, seja pela magreza latente, seja por ser gordinho, seja pelo cabelo um pouco (ou muito) crespo... Os fatores motivadores eram muitos, todavia a intervenção dos pais, de décadas passadas, se consistia em trabalhar a autoestima dessa criança a ponto de ela perceber que suas “imperfeições” não deveriam incomodá-la tanto, pois, por mais que não se queiram mostrar, todos têm seus “defeitos”.
Intriga-me agora é tratar esse tema com tamanho zelo e pior, será se ao falar tanto e expor tanto, livrará o indivíduo de sofrer o famoso bullying? O que tem sido feito a ponto de reverter esse tratamento desrespeitoso? Apenas destacá-lo, mostrar nomes e mais nomes só acrescenta títulos e ar de “sabidão” para quem vem cheio de teorias. Culpa dos psicólogos? Não. A sociedade determina o que quer ouvir. Para essa mesma sociedade que quer saber as causas de suas mazelas, dissabores, violência crescente, famílias dizimadas, intolerância social, bonito nome: bullying!
O novo nome dado à falta de respeito, que muitas vezes é ensinado em casa, passa ser propagado por todas as mídias, porém isso não resolverá o problema. “Que absurdo! Precisamos conscientizar as pessoas sobre o bullying” Bobagem, isso todo mundo já sabe com esse nome moderno ou com nome antigo “falta de respeito ao próximo”. Saber o que é bullying todos sabem, todos vivem, todos sentem, todos veem. Aliás, que nome recebe o tratamento dispensado a um jovem que, aos 17 anos, descobre que não consegue entrar numa faculdade pública, pois uma vaga é muito concorrida e ele não tem chances de ser beneficiado. Como se chama esse tratamento dado pelo estado? Que nome é dado ao tratamento a uma jovem que quer ser modelo, mas seus “pré-requisitos” não atendem ao padrão? Que nome recebe o tratamento dado a uma criança que em vésperas de Natal deseja o brinquedo de última geração ou uma viagem à Disney? Qual é o papel de seus pais? Informá-la de que está sendo vítima de bullying e que futuramente, caso não consiga um bem desejado, deverá revoltar-se contra tudo e todos?
A tênue diferença entre o bullying de antigamente e o de hoje é que o hodierno serve para fundamentar, justificar os problemas e conflitos com os quais convivemos, para os quais não temos ações concretas a fim de solucioná-los. Camuflamos nossa condição de impotente e é como se bullying fosse uma “instituição independente” e que por isso deveria responder pelos conflitos dessa geração.