KATE - Duquesa de Cambridge (feinha e insossa)
Na era do FICAR, uma ode ao PERMANECER JUNTOS PARA SEMPRE, mesmo que esse sempre nem sempre seja permanente. O casamento que a Inglaterra mostrou ao mundo com tanta pompa, agradou-me sobremaneira menos por ele em si, mas pelo contexto. O mundo quase parou para ver a cerimônia do milionário casamento – chiques no último, famosidades, celebridades, imprensa de toda cor estavam lá. Um acontecimento raro pela simbologia, suntuosidade, luxo e beleza, num ritual de SONHOS, talvez seja assim que melhor possamos falar. SONHOS. Vi ali, embora rapidamente pela TV, o restabelecimento coletivo de um ideal da felicidade de uma pessoa junto de outra como se vivesse um CONTO DE FADAS; como se o tempo parasse por ali para ser só deles. Um pouco do que nós, pobres “plebeus” um dia imaginamos pra nós. Afinal, a gente sempre quis encontrar a nossa “cara metade”; sempre, na condição de laranja, procuramos a outra nossa banda; sempre num modelo meio esotérico buscamos nossa “alma gêmea”, etc. Esse ideal de nos eternizar no outro, como dissemos, meio contos de fadas, fica vivo de novo dentro de nós quando assistimos a um casamento REAL de tamanha envergadura.
Talvez não haja espaço para a compreensão desse casamento no viés da práxis da vida. Afinal, a própria Lady Di, teve seu sonho de amor eterno interrompido pela vida em si mesma cheia de contradições. Dito diferente, nossa Lady não era feliz naquele “conto de fadas” e rompeu com tudo. Acordou do sonho e foi ser feliz com quem achou que deveria contrariando a Rainha Mãe e alhures. Morreu tragicamente, perdeu a coroa, mas não o reinado. Acordou do sonho, mas ficou sonhando com a realidade dos menos favorecidos, especialmente as crianças dos países arrasados pela fome e pela miséria.
Repito-me: esse casamento vem nos acordar a sensibilidade diante dos modismos como o FICAR, entre os mais jovens. Estes pararam pra ver o casamento. Devem ter achado tudo muito careta, ou não? Será que essa festa tão simbólica não os fez pensar no amor maior com sentido de permanência construída a dois no cotidiano da vida? Talvez sim, talvez não. Prefiro o talvez não! Torço pelo talvez sim! Contudo, acho que a grande maioria de jovens tenha sido levada pela onda que a imprensa fez acerca do enlace matrimonial principesco.
Sou romântico e pronto. Assumir é coisa tida como careta por muitos. Da mesma forma que gostar de Roberto Carlos tem a mesma conotação para outros tantos. Prefiro a ilusão consentida por mim, ao modismo estabelecido pelos outros e não me faz feliz. Ficar é bom e eu já fiquei. Beijar é bom e como já beijei. Das ficadas, sequer o nome ficou. Dos amores, muito ficou. No mínimo a história alinhavada de sonhos, de quereres nem sempre recíprocos, mas quereres; de intempéries no afeto, mas por mim provocadas ou sofridas na condição de outrem.
Que mal posso atribuir ao sonho? Ele depende mais do sonhador do que do objeto sonhado. Viver sem sonho deve ser como “comer doce e não beber água”, como “dormir e acordar com sono”, “como dormir e não acordar”... Medo do futuro? Medo de sofrer decepções? Prefiro correr riscos. Não se arriscar no afeto, no amor, é estabelecer-se frouxo por dentro e desonerado por fora. Por que tanta gente quer amor eterno numa vida tão passageira? Prefiro amores no varejo a dores no grosso. Meus amores do varejo só não podem ser da forma que os outros desejam pra eles. O meu amor, por ser meu, tem que ter minha cara, minha rubrica do lado do coração. E se esse amor for feito de zinco, certamente serei feliz com ele. Prefiro o amor de zinco àquele de ouro ou de brilhantes esculpidos pelos outros.
Por isto o casamento REAL me satisfez. Espero ter instigado para que haja um repensar das relações falsamente alimentadas pelos chats, pelas conveniências afetivas, pela ilusão que imaginar não ser careta (embora sendo) deixa.
P.S.: Certa vez, na Barra do Brejo - lugarejo pertencente a Bom Conselho-PE, assisti a um casamento comum. A noiva vestida de branco (aquele branco meio encardido) e o noivo com um paletó (não era terno) surradinho dando a impressão que "o finado era maior"; o buquê era de sabugueiro - aquele usado para os chazinhos caseiros e a coroa posta na sua cabeça era imaginária. O véu que lhe cobria o rosto era um chale comum daqueles que as mulheres usam quando vão a missa. Os convidados eram meia dúzia, mas todos compenetrados e felizes com aquele casamento. Depois da cerimônia, fomos para a casa dos noivos. Casa simples de taipa onde nos esperava uma buchada de bode, regada a cerveja quente (não havia geladeira, nem luz elétrica), cachaça e muita alegria. Um "pé de bode" (é assim que também se chama a sanfona de oito baixos, além de harmônico, etc) começou a tocar e os convidados a dançar. A festa foi tão boa que ainda me lembro. Se pensam que foi diferente do casamento REAL, não creio. O cenário, a pompa, as expectativas, sim! O sentimento não. Lady Di casou depois deles e se separou e já morreu. Eles estão vivos e juntos e felizes até hoje. Sentimento não se mede pelo que se vê.