Eu não me permiti
Baseado nesse novo livro de Martha Medeiros, Fora de mim, que ganhei de uma querida amiga, percebi algo libertador sobre um relacionamento que vivi. Nada dá para entender exatamente, mas passou, e agora, passou mesmo.
Era como se eu estivesse em um turbilhão e fosse carregada, jogada para lá e para cá. Nada fazia muito sentindo e eu sentia tudo aquilo desesperadamente, como se o mundo fosse acabar. Mas não acabou, enfim.
Passei tanto tempo sendo essa garota moderna, cheia de independência, de coragem e determinação. Cheia de mim. E eu me esforçava desesperadamente para ser exatamente isso, porque era no que eu acreditava. Acreditava no amor também, mas ainda não entendia nada. Nada de nada.
Naquela época, quando eu era só uma menina, já sabia bem no que acreditava. Já não acreditava em papai-noel, em coelho da páscoa, nem em amores que duram para sempre.
Sempre achei que o amor era algo infinito, e que você pode amar, e amar de verdade, várias pessoas ao longo da sua vida. E que nenhum amor é igual ao outro. Nenhum. Nem mesmo para os filhos. Nem para os amigos. Nem para os amores.
Sabia que na adolescência amamos inconseqüentemente e que, não necessariamente, mas passa, e passar é bom. Acreditava que mulheres adultas, maduras e inteligentes amam melhor.
Eu sabia disso tudo. O que eu não sabia, é que a prática é totalmente diferente da teoria.
Por muito tempo, gostei rápido, de muitas pessoas. Gostei muito, desapeguei fácil, voltei a gostar e depois a esquecer. Tive carências, recaídas e fiz sexo por carência, por ódio, por vingança e sexo só por sexo, o que não foi exatamente genial, mas também não foi ruim. Ou algo do qual me arrependa. Foram experiências. Mas nada disso foi amor. Eu sei.
E depois, bom, depois de toda essa reviravolta sentimental e sexual, veio algo que eu queria, mas não estava esperando de verdade. Aquela coisa que nos arrebata. E eu não sabia explicar, e na época não sabia o que era, a gente só sent... e se não nos deixarmos levar... bem, foi exatamente o que eu fiz.
Foi tudo muito rápido. Em três meses eu havia conhecido o amor, amado desesperadamente, sofrido e estava partindo para outra, me enganando talvez. Mas foi no que eu acreditei. Até escrevi sobre isso, até demais eu diria.
Veja, eu era essa garota independente e quando me vi arrebatada, totalmente dependente de outra pessoa, ao invés de ficar e esperar para ver o que ia acontecer, eu pirei.
E ele não fez nada. Agora eu entendo que ele não teve culpa de nada. Apenas ficou ali parado me vendo ser sugada por aquela tempestade de emoções que eu não sabia bem o que era.
Ele tentou me alertar para respirar e ir com calma, não posso negar, ele tentou. Mas eu pirei mais.
Fiquei ensandecida, eu precisava da voz dele, precisava do cheiro dele, precisava dele num vicio avassalador, doentio e doloroso. Doloroso porque eu não me permitia aquilo. Eu não podia depender de ninguém. E quis pular fora, como faço sempre que meus planos não dão certo, mas ao invés disso, saiu uma declaração estranha, de algo que eu estava vivendo intensamente e sozinha. Eu gosto de você.
A verdade é que nós mentimos um para o outro desde o começo. Ele disse que não queria se envolver, e eu disse que estava procurando por algo sério. Era tudo mentira.
Ele era frágil, romântico, e incrivelmente carente. Eu era totalmente independente e não conseguia me deixar levar por aquilo na calmaria.
Eu fazia e negava. E aquilo me matava. Eu queria ficar por ele, com ele, pra sempre. E aquilo me matava. Eu era ele o dia inteiro. E aquilo me matava.
Então, encanei que ele não estava na minha. Coitado, ele nem sabia onde eu estava.
Falei um monte de coisa, que nem eu entendo. Eu o culpava por não fazer nada. Por não me ajudar. Por me deixar sufocar naquilo. Ele não reagia.
E quando o fazia, era doloroso demais. Porque mais eu me envolvia, e aquilo me matava.
Depois de ficar bêbada e agarrá-lo no meio de uma festa, totalmente inconseqüente eu já nem sabia o que era ser independente mais.
O que eu estava fazendo afinal?
Sumi.
E aquilo doía em mim. Doía porque eu sabia que ele estava aliviado por aquilo ter acabado. E ninguém sabia o que era. Nem eu sei descrever.
E não era bom.
E nem mesmo esse sofrimento eu me permiti.
Eu chorava, e aquilo me matava. Eu não me permitia sofrer por uma idiotice de paixão que durou tão pouco. Quem eu era para sofrer por aquilo? Eu não podia. Eu era independente.
Ninguém me agüentava mais chorar por ele. Ninguém me ouvia mais. Nem eu me suportava.
E tive recaídas. Mais alucinadas do que foi esse relacionamento.
Ele, exatamente como era, não reagia, e quando o fazia, era extremamente doloroso. Porque daí, um pouco de esperança nascia. E aquilo me matava. Porque eu enlouquecia, o culpava por tudo, falava absurdos que nem eu entendia. E então, eu sumi, definitivamente.
Doeu por muito tempo. E o que mais doía, era que eu não me permitia sofrer. Eu não era essa garota adolescente que chora por amores doentios e passageiros. Eu não era assim, apesar de ser.
Eu era madura, independente. E solitária. Feliz por ser assim.
E hoje me arrependo muito de tudo isso.
Não por não ter durado. Mas por não saber realmente o que poderia ter sido. Porque eu não me permiti nada. Não me permiti amar, sofrer, e esquecer.
Temos tanto medo de descobrir, que na verdade, não somos especiais, nem únicos, nem pra sempre. Somos todos um pouco iguais e um pouco diferentes, mas nada é mais inédito. E isso é normal.
Postado por Jule Santos às 07:25 0 comentários