O CAPITÃO BACIA

CAPITÃO BACIA

No ano de 1980, o pátio da Escola de Instrução Especializada do Exército, no Rio de Janeiro estava tomado de candidatos aos diversos cursos de especialização e formação. Todos voluntários que haviam passado em rigorosa seleção dentre 40.000 candidatos em todo Brasil. Eram 360 para formação técnica e se apresentavam para confirmarem suas matrículas. Era lhes perguntado quem tinha algum problema de família ou quem desejava desistir, por que ia começar um período duro de instrução, ralação pra valer. Aqueles agora alunos que vislumbravam a chance de um emprego estável, seguro, e que lhes renderia oportunidade ímpar de estabilidade profissional. Motivo de sobra, para que nenhum se recusasse a fazer o que lhes era imposto ou que fosse suscetível à dureza do curso e à disciplina exigida.

“Sim senhor, Sim senhor! Não senhor e não senhor quero ir embora!”

Esse era o slogan, a frase que deveriam pronunciar no decorrer do curso. Isso funcionava como uma lavagem cerebral, uma tortura para os mais fracos, aqueles de uma consistência física menos privilegiada.

Naquele dia na Serra de Madureira a instrução era Fuga e Evasão no campo numa área de instrução preparada chamdada " Campo de instrução Tenente Farve. Todos os alunos se encontravam ali pelados sob garoa e o frio intenso dia e noite sem descanso. A área era especial, preparada com bastante segurança para que algum aluno durante a escuridão não viesse a cair em pricipício, onde ali seria testada a resistência, onde seria levado ao extremo o psicológico e espírito de lucidez. Ali era cobrada disciplina à flor da pele, e o aluno fustigado até o seu limite. Por meios de interrogatórios e de gases como o lacrimogêneo é testada a capacidade de resistir a tortura. Com simulação de trabalhos forçados em Campo de Concentração, trabalhavam na ravina ora arrancando ervas, ora carregando pedras.

Tinham ali, os jovens capitães Bacia, Pedro, Vilela e Marcelo com seus auxiliares, tenentes Anderson, Paulino, Severino e Cruz além dos Sargentos Fermônio, Eliseu, Batista, Elano, Gabriel e Araújo. Todos eram guerreiros de selva, pára-quedistas e Forças especiais pertencentes à 1ª Brigada de Infantaria Pára-quedista do exército Brasileiro.

Empolgação não lhes faltava ali, com o grande o número de homens ávidos pelo primeiro emprego, era notório e muito mais fácil manobrá-los. Creio que por um momento ignorando a orientação do comando superior, crescera-lhes o ego e constantemente cometiam atropelos à instrução na maneira de como foram formados nas academias. Aqueles alunos eram jovens que retratavam a miscigenação cultural do povo Brasileiro. Principalmente no que tange ao livre principio religioso de cada um.

O jovem capitão Bacia mais uma vez atropelou a bagagem cultural de sua formação de oficial e ousou afrontar o aspecto mais sagrado do homem: Sua FÉ.

Inventou alguns gritos de guerra: Guerra Sangue; Matar; Sangrar, Esquartejar o inimigo etc.etc.etc. tudo era repetido com mais vigoroso entusiasmo assim prosseguia. Até que lhes faltando talvez, inspiração, resolveu que todos deveriam imitá-lo nas seguintes saudações:

__ Deus é bom! Deus é bom!Deus é bom!Deus é bom!Deus é bom!.

Depois sutilmente inventou:

__ Deus é BU, Deus é BU! Deus é BU!Deus é BU!Deus é BU!

E abaixando o tórax até ao chão,repetia muitas vezes, como os mulçumanos fazem para Alá.

Até aí, nada de mais. Vendo, contudo, que era imitado sem rodeios.

Vendo que tudo estava sobre controle estava por demais entusiasmado.

Depois de algum tempo trocou mais uma vez sutilmente a saudação e adoração, exigindo correspondência por parte de todos:

__ Belzebú! Belzebú! Belzebú! Belzebú!

Ao que foi de imediato obedecido, imitado por quase todos.

Uma saudação que provalvemente os confundiria.

E inclinando o tronco com rosto em terra, foi imitado com todo o fervor por quase todos aqueles alunos, que ouviram muito bem o tipo de saudação.

Notaram que um dos alunos, o qual ninguém sabia que, se de fato era crente ou não, como os de mais que fizeram a sudação. Pois que nunca se reunia com os outros crentes, para louvar e cantar. Ninguém sabia qual o era a sua igreja, por que ele era como um disfarce em meio aos demais. Surgiu inesperadamente e uma coisa agora sabiam, que ele não se curvara aquela infamante adoração a Belzebu.

Nem mesmo diante da possibilidade de ser desligado daquele curso o qual tanto sonhara.

Naquele momento parou tudo, exigiram que aquele aluno se curvasse em adoração igualmente os demais. Afinal estavam em guerra, e todos demais alunos estavam fazendo, menos ele. Até aí isso não tinha nada de mais.

Encontravam-se ali abatidos e acovardados pelo medo de perderem o emprego, pela cobrança de disciplina irrestrita, renegaram suas religiões.

Impossível, aquele aluno Pedreira não se curvou e não se curvaria, foi ameaçado de punição, ameaçado de ser desligado do curso por falta de disciplina. Em vão, Aquele aluno de pé como uma estátua de ferro os olhos arregalados como se estivesse visualizando algo inimaginável, olhar pétreo causou intimidação aos presentes.

Gritou a todo pulmão fazendo revoar as gaivotas, as garças, os marecos do pequeno lago e sobre a tropa uma revoada de pombos:

" __ Meu senhor, meu senhor, meu senhor Deus! Desejei este curso como nenhum outro, achei que o mesmo fosse minha felicidade, vejo que não!

Seus olhos flamejavam e eram como faíscas, de sua boca as palavras eram como laminas cortantes que penetravam a alma, quem ousaria contestá-lo, o universo estava a seu favor.

Todos trezentos e sessenta alunos ouviram as palavras de Pedreira. Os instrutores pararam, e temeram. Talvez pensassem está preso, vai ser desligado, que custaria obedecer como os demais.

O Aluno Pedreira falou:

__ “Eu posso ser punido, excluído, desligado, preso e até açoitado se for o caso, porém sempre serei um servo de Deus altíssimo que fez os céus e a terra, as não me curvarei a Belzebu, nem morto."

Naquele campo de instrução treinamento de guerra, todos os trezentos e sessenta alunos e o Brasil, devem ter ouvido do Oiapoque ao Chuí, e o acampamento estremeceu, pararam, e todos e os olhares voltaram-se para o Aluno Pedreira.

Agora sem fronteiras, não tenho dúvidas que ali naquele momento o Anjo do Senhor estava presente: Assembleístas, Adventistas, Batistas, Congregacionalistas, Católicos e outras religiões igualmente Cristãs, serviam de coração ao mesmo Deus.

O silencio imperou, e o capitão que era galego agora parecia um pimentão de furioso que estava. Desceu do ponto alto em que se encontrava, mas à medida que foi descendo foram se levantando, um aluno crente aqui outro acolá, mais um aqui outro ali e somaram as vozes de Cristãos crentes com nunca visto.

Uma explosão de ânimo os impactara. Irmanados nem pareciam extasiados pelo cansaço após dia de intensa tortura e ralação (instrução como se diz no meio militar). Estufaram os peitos num só eco que fez tremer ravina.

__“Podem até triturar-nos, desligar-nos deste maldito curso, se esse é aquele o vosso deus. Mas não compliquem quanto a nossa Fé em nosso DEUS.

O capitão BACIA temeu indisciplina generalizada e aconselhado pelos outros oficiais e sargentos instrutores abaixou a crista e cedeu, como se diz no linguajar de caserna.

O principal foi que reconhecendo que com Deus o todo poderoso, não se brinca! Posteriormente conversou com aluno Pedreira, reconheceu e temeu que Deus nosso criador é o todo poderoso.

Ao termino do curso todos prontos para a formatura ninguém o via, sumido entre quase quatrocentos alunos, parecia ter sido abduzido,

não se sabe para onde foi o aluno Pedreira, nem a que igreja o mesmo pertencia. Sabia-se, contudo, que uma longínqua fronteira desse imenso Brasil o acolhera.

Jamais esquecerei, quem poderia esquecer o que vira ali. Jamais será esquecida essa gloriosa façanha do Aluno Pedreira.

Depois dessa do Aluno Pedreira, sempre FICAREI DE PÉ! E você ficará?

Ele com a graça de Deus, como um anjo ajudou a todos a serem mais fortes e fiéis no propósito de ficarem do lado certo, do lado de Jeová Deus.

NATINHO SILVA
Enviado por NATINHO SILVA em 29/04/2011
Reeditado em 18/01/2012
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