JADE
Jade não era só uma pedra rara. Era uma mulher rara.
Sempre quis ser prostituta. Era seu desejo de menina.
Achava um charme, uma coisa fantástica aquelas mulheres faceiras
desfilando com mini-saias e meias transparentes pelo calçadão
durante as madrugadas silenciosas e frias. Elas faziam meneios
sorrateiros e conduziam os homens. Manipulavam e os levavam ao
prazer. Passeavam em carrões luxuosos e eram bem recompensadas
com um maço de cédulas. Às vezes queriam apenas estar
acompanhados de uma mulher bonita. Ser puta era ostentar um
fascinante glamour.
Jade era bonita. Queria ser sedutora, desejada, idealizadora de
prazeres, predadora de homens. Jade realizou seu sonho.
Ela seduziria todos os machos. Despertaria a fantasia dos homens mal
amados, dos jovens inexperientes, dos velhos movidos a Viagra.
Faria inveja às moças menos bonitas.
Queria esbanjar beleza, exibir o bumbum proeminente, as coxas
morenas e polpudas e mexer com os quadris em provocações
alternadas. Iria desfilar pelas avenidas nas noites frias, seminua. Os
homens dos carrões luxuosos a desejá-la, dispostos a pagar cem,
duzentos, quinhentos ou mil reais para tocar seu púbis, para beijar
seus seios.
Sua fantasia estaria completa quando percebesse os jorros seminais,
os urros ofegantes e as garras afiadas a ferir suas costas e suas
ancas. O maço de cédulas estaria em suas mãos. Limparia as coxas e
esperaria outro cliente. Finalmente era senhora dos prazeres
masculinos.
Trespassada por dezenas de membros compridos, grossos, brancos,
pretos, asseados, malcuidados ela amanheceria com a sensação de
dever cumprido.
Tocada por empresários, osculada por viciados, sentida por jovens
bisonhos, babada por velhos ela tentou regurgitar as torpezas
ingeridas durante a noite.
O gosto de vodca e uísque ruim. Os efeitos da droga ruíram-lhe o
estômago e o cérebro. O sangue coalhado estacionou na goela. A
boca seca sequer articulou um gemido.
E ela caiu sobre o sofá como uma pedra bruta.
A preciosa Jade transformou-se em segundos num tosco pedaço de
granito.