Caneta vermelha

Quando muito jovem, e recém formada, passava horas corrigindo provas. O vício de procurar erros era tamanho que em conversa com qualquer pessoa só ouvia as falhas gramaticais. Eu não notava que era assim. Uma vez estávamos conversando, com um gravador de fita cassete ligado, pois era a coqueluche da época, e ao ouvir, no fundo da conversa minha voz, que é forte, aparecia repetindo e corrigindo palavras que eram faladas erradas. Fiquei horrorizada com minha antipatia. Parecia que conversava com uma caneta vermelha na mão. Naquele tempo se usava mesmo o lápis vermelho. Fiquei preocupada com essa atitude e fiz um enorme esforço para deixar de ser assim. Sempre achei que quem faz a língua é o povo e quem era eu para mudar o povo? Quantas palavras inexistentes entraram para o dicionário popular no último meio século!

Levei cerca de dois anos ou pouco mais para perder o vício de andar com o lápis vermelho pronto , na ponta da língua. Só aí fiquei feliz comigo mesma e não sou mais uma professora, em horas de folga. Foi um trabalho árduo e agradeço ter notado isso em tempo, pois eu era horrível!

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Ana Toledo
Enviado por Ana Toledo em 29/04/2011
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