Inutilidade

Ainda não consegui entender (pelo menos digo assim a fim de começar o texto) como não se hierarquisam prioridades. Parece-me tão óbvio dar o devido valor às coisas conforme a natureza dessas coisas. Porém, algo de certa forma monstruoso, vem sempre atrapalhar o bom andamento de qualquer coisa de qualquer natureza. Uns chamam de administração. Se assim fosse, que maravilha! Saber administrar, mesmo contrariando interesses, é bom e necessário, mas pensar que neutralizar qualquer atividade humana, do tipo que for e reduzi-la a preenchimentos de formulários tatuados com carimbos roxos como hematomas não é nada proveitoso.

Tenho a impressão (toda a ironia e sarcasmo, por favor) que um papel preenchido a custa de muito tempo perdido e muita dor de cabeça vale mais do que todo um trabalho criativo e necessário. É preciso primeiro preencher uma ficha antes de ser atendido numa emergência dum hospital. A ficha vale mais do que a vida. É mais importante exigir uma série de documentos comprobatórios do que todos já estão fartos de saber (inclusive quem solicita) do que simplesmente aplicar um teste ou fazer uma entrevista. Seria mais inteligente.

Num país relativamente jovem como o nosso (digo do ponto de vista da História Oficial), há muito ainda por fazer e resolver. Paremos, pois de perder tempo com papelada. Somos carentes de educação de qualidade. Conseguimos a universalização do ensino, mas não a excelência. As bibliotecas escolares (quando existem) são medíocres. Salvo honrosas excessões em instituições onde há verdadeiros "Dons Quixotes" lutando contra inimigos visíveis aos de boa vontade e dissimuladamente invisíveis aos de má fé. Ao contrário, as secretarias escolares são (usei o verbo ser de propósito) abarrotadas de papelada inútil. São arquivos mortos (desde que nasceram), diários com informações repetidas diversas vezes etc etc etc etc etc... etc... Tudo isso em "prol da educação" (toda a ironia e sarcasmo do mundo) , que consiste, para uma grupinho, apenas como fonte de dados estatísticos. Os profissionais perdem tempo precioso com preenchimento de tanta papelada que não têm condições de atender a ninguém em suas próprias atribuições funcionais. Imagine, por exemplo, um professor preenchendo um diário e questionário de levantamento sobre a situação do ensino na escola. Não há nada mais patético! Quantas páginas de texto teria esse profissional lido ou escrito a fim de se aprimorar e de oferecer um melhor serviço à comunidade?

Não adianta. Dona Burocracia é impiedosa. E seus seguidores muito cordatos e (em muitos casos) mal intensionados e medíocres. Que lástima. Enquanto isso, seguimos, caneta em punho ou dedos no teclado, as vias primeira, segunda... do interminável caminho para lugar nenhum.

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 29/04/2011
Reeditado em 29/04/2011
Código do texto: T2938287
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