O Casamento Anglicano Do Século!!!

Neste momento que escrevo o texto, assistimos a um teatro em escala global. Mais um casamento da família real inglesa. Talvez o casamento do século.

Não é exagero associar a cerimônia do casamento a uma peça de teatro. Pessoas vestidas em traje especial, com atos e palavras repetidos secularmente, participam de um evento sabendo que tudo aquilo está longe da vida real dos nubentes e certamente, não assegurará uma convivência harmoniosa e amorosa duradoura.

Sem eufemismos e hipocrisia é preciso admitir que a cerimônia é hoje, no mais das vezes, uma encenação e não guarda coerência e relação profunda com os princípios e valores tradicionais.

Na multiplicidade de relações afetivas do mundo contemporâneo, a convivência afetiva profunda, desfrutando os prazeres vividos no espaço recôndito da alcova, passou a ser lugar comum.

Segundo noticia a imprensa, não foi diferente com os noivos ingleses de hoje, pois já dormem juntos há anos. No entanto, o casamento reproduz uma tradição social e religiosa que não se restringe à Igreja Anglicana. Bem sabemos como no século XVI, nesta nossa terra abaixo do Equador, a cruz de Cristo, tendo como aliada a espada dominadora, impôs uma doutrina, crenças e um modo de pensar a vida e o mundo. Mas, a dinâmica cultural, econômica e social, criou desvios e alternativas de vida real não consoantes com o pregado e imposto desde a nossa mais tenra idade e até mesmo, desde o berço.

E é interessante lembrar que quando Martim Afonso fundava e desenvolvia nossa primeira cidade, São Vicente, o rei inglês Henrique VIII rompia com o papa, criava a religião anglicana em 1533 que seria instituída oficialmente em 1534 através do Ato de Supremacia, aprovado pelo parlamento inglês. Aliás, o primeiro parlamento - burguês - do mundo, cuja existência remonta à Idade Média.

E que interessante, o rompimento com o papa guardava relação com o casamento!!!

Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica que condenava o seu divórcio com Catarina de Aragão, sua primeira esposa e, desta forma, rompendo com o sucessor de Pedro em Roma, ele ajustou o divórcio para se casar com Ana Bolena. Mais tarde, mandou executar Ana Bolena e casou-se mais quatro vezes.

E de alguma forma porque, Catarina de Aragão, não lhe havia dado um filho homem.

Ignorando a decisão papal, Henrique VIII casou-se, em 1533, com Ana Bolena, sendo excomungado pelo papa Clemente VII.

O Ato de Supremacia, em 1534, colocou a Igreja sob a autoridade real: nascia a igreja anglicana. Henrique VIII era o chefe político e chefe religioso da Inglaterra.

Mas foi a rainha Elizabeth I, ironicamente a rainha virgem, (1558-1603), que instituiu oficialmente a religião anglicana, através de dois atos famosos: o Bill da Uniformidade, que criava a liturgia anglicana, e o Rui dos 39 Artigos, que fundamentava a fé anglicana.

Claro havia razões de ordem econômica: os bens da Igreja passaram para as mãos da nobreza, que apoiava o rei. Desta forma, as propriedades da nobreza aumentaram, facilitando a nova atividade econômica de produção de lã, que era procurada pelas manufaturas de tecidos.

O capitalismo avançava e estendia seus tentáculos sobre a América. Primeiros os portugueses e espanhóis, depois conhecemos as tentativas dos franceses e holandeses. Mai tarde a Inglaterra, que após subjugar Portugal, viria com a avassaladora força econômica mundial, abrindo caminho para o domínio global do capital contemporâneo.

O evento anglicano de hoje que continua enquanto finalizo esse texto, se apresenta ao mundo com enorme glamour e para ficar no galicismo, como uma verdadeira mise-en-scène!!!

Os eventos cristãos católicos não são diferentes, não obstante a repetição secular dos adágios, compromissos e claro, dogmas da homilia que se estendem a nossa vida pessoal e social.

Na profusão de crenças e igrejas evangélicas, doutrinas, seitas pentecostais, do século passado e que continuam a proliferar neste terceiro milênio, é preciso admitir uma coisa: a cerimônia do casamento, particularmente a noiva vestida de branco, é um sonho na nossa cultura.

E é lícito buscar a sua realização. Afinal se uma plebéia inglesa, embora de classe média, nas condições e forma faz, porque não nossas moças e mulheres!!!

Tirante a nobreza francesa, quem mais do que os ingleses, antes e depois da era vitoriana, inspiraram tantos filmes de traições conjugais, assassinatos, filhos bastardos, rapto de mulheres e concubinato.

Enquanto aguardamos o momento solene do beijo dos noivos, e sem necessidade de citar exemplos de ontem e de hoje, finalizo afirmando que o mundo continua o mesmo.

Apenas mudam os atores e a roupagem com que se apresentam.