MEU SONHO IR REAL

Estamos em reta final de declararmos nosso Imposto de Renda. Correria, atropelos de última hora, etc e tal.

Eu faço esse serviço, e até que ganho um trocadinho, pois as pessoas se negam ao feito ou até desconhecem o processo de declararem seu próprio IRPF, e, nessa situação eu e outras pessoas tiramos parte do nosso sustento, onde adquirimos alguns tostões por prestar este serviço.

Só que, como sou contemplativa - até demais, por sinal -, fico observando a multiplicação anual dos bens de certas criaturas.

Fico pasma como as pessoas estão conquistando, conquistando, recheando seu IRPF, mas quando você chama-os para um bate-papo, você percebe-os vazios, tristonhos, melancólicos, ávidos por conquistarem ainda mais, ansiosos por no ano seguinte me trazerem mais papeis comprobatórios de conquistas e aquisições materiais.

Nada contra, afinal esta crônica não é uma apologia à mesmice, à estagnação, mas quero levar-lhe à reflexão interior e lançar-te um convite a fazer seus cálculos morais, sociais, culturais.

Eu analiso os papeis, olho, olho, contemplo, contemplo e me pego a pensar:

Meu Deus, que pena que na declaração de Pessoa Física, não conste alguns campos intitulados:

Conquistas Morais;

Aquisições Educativas;

Relação de Clássicos Literários lidos anualmente;

Quantidade de Sopões distribuidos aos leprosários, anciãos, crianças e doentes mentais desassistidos;

Visita aos presídios;

Horas gastas conversando, interagindo com os excluídos pela sociedade;

Reforma Interior;

Horas gastas com uma faxina mental;

Investimento em vidas alheias;

Horas de apreciação ao mar, rios, fontes, florestas, animais.

Já imaginou, que maravilha?

Seria fantástico!

Lembrando que isto é só um pensamento meu, até porque são ações inafiançáveis, entenderam?

Mas o simples fato de optar por relacionar nossas melhoras anualmente, já seria de muito bom tamanho.

Realçando que não seriam "campos obrigatórios" a serem preenchidos, mas voluntários!

Eu sonho com um IRPF irreal, mas que faria uma revolução social, ah isto faria sim, pois instigaria o ser humano a se conhecer cada vez melhor e melhorar não só na visão material, aquisicional, mas cultural, intelectual, humana, solidária e social.

Dessa forma, o ser humano realmente poderia "IR" (caminhar) a algum lugar muito mais prazeroso e seguro.

Poderia IR mais além!