PENETRA

O tal do “penetra” é um tipo de cara-de-pau useiro e vezeiro em penetrar nos casamentos, festas e demais acontecimentos sociais sem ser convidado, gerando um mal estar entre as pessoas das famílias presentes, formalmente convidadas para o evento.

Mas ele não está nem aí, adentra o recinto da festa de casamento, cumprimenta descaradamente as pessoas, pespega beijinhos nas meninas, abraça um e outro, pega uma taça de champanha com o garçom aqui, fisga um salgadinho na bandeja do outro acolá, come e bebe à vontade, dança com as moçoilas mais bonitas e só altas horas da madrugada é que vai embora, às vezes até de carona com algum parente do noivo ou da noiva.

Meu mano Aécio Flavio, quando músico e dono de conjunto musical, tocava nos grandes bailes realizados na Belô de antigamente, no Minas Tênis Clube, no Pampulha Iate Clube, no Clube Belo Horizonte, no Clube dos Sargentos e em diversos outros locais bastante freqüentados pela sociedade mineira. Presenciou várias ocorrências envolvendo “penetras” e gosta de contar uma, em especial, do Liquinho, um gordinho esperto que era muito amigo dos músicos da sua banda.

O Liquinho acompanhava o maestro Aécio Flavio e seus rapazes por onde quer que eles fossem tocar, até vestido como eles, de terno preto, camisa branca impecável e gravata borboleta negra, sapatos pretos de verniz, sempre nos trinques. Não tocava nenhum instrumento sequer, mas entrava em todos os bailes e nas festas mais pomposas sem ser barrado. Era o típico “cara-de-pau”.

Certa ocasião, o “Conjunto Melhor da Noite”, do mano Aécio, foi contratado para abrilhantar um baile na sede do Automóvel Clube, um dos mais tradicionais da capital mineira, ali na Avenida Afonso Pena defronte ao Parque Municipal. E num sábado frio do mês de junho, anos 60, a moçada se apresentou para o seu trabalho naquela aristocrática sociedade.

Chegando à portaria tiveram que entrar em fila indiana e, por exigência da casa, com cada músico portando o seu instrumento. O primeiro foi o Maestro Aécio Flavio, com seu acordeom, atrás o Dino e seu saxofone, em seguida o Plínio e seu piston, o Chiquito e sua guitarra e assim sucessivamente até que veio o Liquinho, o último da fila, sem nenhum instrumento à vista. Ao tentar passar foi barrado por um baita segurança, um mulato enorme, verdadeiro armário:-

“- Pera aí, cara! Aonde vai você? ...” - e o Liquinho, tranqüilo e sereno:-

“- Uai, eu sou da banda, amizade! Sou músico também.”

“- Músico, é? Cadê o seu instrumento, cadê? ...” – insistiu o porteiro.

“- Olha aí, eu só apareço na hora do “Mambo”, tá sabendo? Do “Mambo” !...

“- Ah, é mesmo? Me explica isso melhor! ...” – insistiu o mulato.

“- No “Mambo” não tem aquele cara que grita:- “Huuuuu...” ? Não tem? ...”

“- Ah, eu sei. E esse cara é você?...”

“- Não, mas sou eu quem aperta o saco dele, tá ligado? ...”

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 27/04/11

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 27/04/2011
Reeditado em 27/04/2011
Código do texto: T2934915
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