O QUE RESTOU DE NÓS?

Assisto uma jovem senhora de 36 anos, funcionária pública, falar das suas dificuldades financeiras em administrar o seu comprometido salário. Um economista, ficando a par da história, dá opções para, num futuro próximo, fazer com que saia das dívidas, que se tornam crescentes, com planejamento, redefinição do comportamento consumista e vontade de mudar. Fala a senhora que é separada, possui dois filhos que vivem com o pai e que este marido é bom, generoso, mas entendeu como casamento muito mais do que isso. Não estava satisfeita e feliz. A princípio se tornou incompreensível, para as pessoas próximas, como se abrir mão de uma relação estável, um pai de família responsável e presente. Vi fato semelhante nos depoimentos da autora de “Comer, rezar e amar”. O casamento ficou insustentável, inclusive a jornalista passando por um quadro de depressão, até conseguir sua libertação e ir ao encontro de si mesma, em outros lugares. Para os dois casos fica a pergunta: O que restou de nós? No primeiro caso ficaram os filhos, respeito e admiração pelohomem com quem se casou; não a princípio, já que ,geralmente, numa relação um dos pares ama mais e o que é deixado fica com a sensação de abandono, de perda, de desilusão, incompreensão e profunda tristeza. No caso da jornalista Elizabeth Gilbert, a saída do casamento foi bastante conturbada, com resquícios de vingança do ex-marido, inclusive “sugando” grande parte dos ganhos financeiros da autora, também, de Comprometida.

Desconheço quem não passou por fins de relacionamentos duráveis e sem fugir da pergunta: O que restou de nós? Uma conhecida conseguiu fazer uma mudança em sua vida, a partir de um amor virtual. Comunicavam-se diariamente por um ano, mas nunca chegaram a se encontrar pessoalmente. Um sabia detalhes da vida do outro e os encontros pareciam evoluir para algo mais permanente. Ela havia deixado o marido que já estava deixado há muito. Aos poucos a relação com o novo eleito foi se fragilizando, as comunicações diárias sendo interrompidas e o amor foi se esvaindo. Ela ficou, a princípio, arrasada, mas consciente dos benefícios que teve. Está fechando o luto e com certeza partirá para um novo amor. Sentiu a dor da perda, ficou triste, chorou, mas com lindas lembranças do que vivenciou e me fala que restaram coisas boas. Sem mágoas é mais fácil ver a vida pelo lado bom e alimentar as boas recordações que alimentam a alma.

Às vezes as relações são como as finanças, havendo opções em se administrar. Em algumas ocasiões se tem a sensação de que não saída, como a dor da perda; algo doloroso, parecendo que a tristeza não terá fim, como ocorre com as dívidas. A maleabilidade do ser humano é admirável e encontra caminhos para administrar o que a princípio parece não ter solução. Dizem que o problema sem solução não é motivo de preocupação e o problema que tem solução não carece de preocupação porque a resolução virá. Assim sendo, administrar as finanças e os problemas de relacionamento envolvem esforço, discernimento para as possíveis opções. Saber que no só depois a história de cada um foi escrita, com as emoções geradas pelas circunstâncias e que deixaram marcas que comporão as lembranças tristes e doces de cada vida.

Edméa
Enviado por Edméa em 27/04/2011
Código do texto: T2934838