Trabalho e exumação
Quando uma pessoa idosa morre o consolo é imediato. No hospital percebemos que pouco ou nada pode ser feito. Nada pode ser feito é uma condenação vivida dentro do seio hospitalar quando se é velho. Morre o idoso e começam os serviços funerários que em muitos casos consistem na necessidade da exumação de outro cadáver mais remoto ainda. Espaço na cova para dar lugar ao novo morador num estreito e humilde túmulo de familia.
Desde que o Partido do Trabalhador assumiu o poder imaginamos que as condições para o trabalho fossem coincidir com a modernização tecnólogica, com o desenvolvimento técnico. Mas quando aqueles operários que capinam a rua bateram à porta suplicando água, compreendemos o quanto estavamos longe da realidade. O mundo dos ofícios nunca recebeu atenção social. São como os ossos exumados do empreendedorismo.
Vamos então ao cemitério assistir a exumação. O coveiro e o dono da funerária estão juntos. Puxam o caixão lentamente para fora, a parte de baixo cai, ouve-se um pequeno som de crânio oco caindo no chão. Branco, muito branco. O coveiro veste luvas cirúrgicas. Nenhuma proteção para a respiração. Abre-se o caixão e a poeira da decomposição é lançada no ar, começa a se soltar. Lembramos tardiamente das milhares de pessoas antigas que morreram portadoras da terrível gripe espanhola. Nesse momento triste e pobre compreendemos as profissões no Brasil. Respeitadas apenas entquanto vertem ouro pelas algibeiras entre títulos de papel.
Nosso trabalhismo descambou para o elevado mundo internacional dos negócios. Mercantilizou-se ao máximo, viaja nababescamente para todos os recantos do mundo. É trabalhismo de fachada, todavia repleto de leis salomônicas, aquelas leis que se evidenciam como agentes de negócio e ligação para trabalhadores ofendidos. Capazes de serem homens de negócio na defesa dos direitos intermediados pela bancada advocaticía e seus proventos.
De tempos em tempos a televisão capta algum trabalho escravo. Escravidão técnica comum da incapacidade de investimento na qualidade do trabalhador e do trabalho. Hoje ainda o trabalhador gasta energia vital no trabalho árduo em troca de salário que mal repõe suas forças. Um povo forte começa na alimentação, sonhamos, na reforçada merenda escolar, nos subsidios as familias dos estudantes para o estudo e o aperfeiçoamento.
Pouco ou quase nada temos de democracia no projeto de futuro para a qualidade de vida do nosso humilde operariado. A ideia de ser operário passou apenas para o ramo da metalurgia. O coveiro, o pedreiro, a doméstica, o padeiro, o barbeiro, o homem que capina, pinta, conserta, precisa se sujar, suar e ganhar pouco para resistir. Sobrevive anônimo. O que escutamos são vozes potentes arrancando microfones das mãos da imprensa. Ameaçando a voz da liberdade. Pobre Brasil.
Nossa estranheza vai além quando observamos a nossa grande admiração pelos americanos com seus trabalhadores , aparelhados, fortes de compleição, prontos para os grandes enfrentamentos. O povo americano criado com a melhor proteina, aquela que lhe garante os direitos que correspondem a vida diante do trabalho. Trabalham para viver enquanto nós, brasileiros, vivemos para trabalhar; até o exercício da ação do trabalho extrair a saúde das vidas perdidas. Essa é a fórmula de desassistência garantida que fomenta a marginalidade. Está oculta muitas vezes nas notícias de ocasião.
Seria afortunado criar o partido do operário da construção civil, outro partido dos professores, partidos de categorias, elevando o sindicalismo a condição partidária. Vívida é a política de marketing dos partidos, parece condizente com o desenvolvimento de fato sobre a realidade no trabalho, ms tem sido tímida para não se sentir o efeito. O que chamamos de subemprego é a alma de uma nação. Evitamos falar nisso em voz alta. Preferimos o silêncio. Resta-nos a alma angustiada de grande nação esbulhada entre o servilismo sem causa dos abandonados.
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