Acontece lentamente
As coisas mais importantes da nossa vida, em sua maioria, surgem lentamente, ou é possível que não tenhamos a percepção milimétrica das transformações. Uma das coisas clássicas, por exemplo, é o surgimento de certo tipo de amor. Não raro, não admitimos o que “está se passando conosco’” quando alguém, de repente, nos revela a descoberta. O passar do tempo também vai nos mostrando que estamos envelhecendo; que aquela juventude que acreditávamos constante foi se transformando em maturidades que nos pegamos tendo em suas várias etapas. Essa lentidão nos acontecimentos deve fazer parte do plano de durabilidade e emancipação proporcionais que, em média, constou de nossa criação. (nesta questão tenho resquícios, ou pode-se dizer, desconfiança, de que fomos criados e não simplesmente evoluídos). Parecemos-nos mais com o andróide de Blade Runner do que com uma ramificação dos macacos, (que tal como todos os outros seres parecem ter sido projetados, a despeito das afirmações do Darwin). É possível que seja apenas um contingente de pessoas que sinta as coisas assim porque seja lento como eu na percepção das coisas, entretanto, em outras podem ter o mal que acomete a tartaruga na corrida com o coelho. Outra denominação sintomática é a palavra adaptação. Na maioria das vezes ela consiste na nossa incapacidade de perceber climas e culturas ao chegarmos a novos grupos. São informações tácitas e subliminares cujos códigos de comportamento exigem um grau de perspicácia acima da capacidade média, caso decidíssemos desrespeitar o tempo requerido para decifrá-los. As percepções imediatas ou são fortuitas ou normalmente sem a importância atribuída às mais duradouras. Recorreria à paixão para exemplificar as primeiras e mais uma vez ao amor para a segunda.