DEUS E OS ANJOS
DEUS E OS ANJOS
CRÔNICA Extraída do livro "LAMPEJOS LITERÁRIOS"
de Carlos Freitas
Certo dia, voltávamos da casa de parentes, quando meu filho caçula colocou-se por entre os bancos do carro dizendo: - Sabe papai, tenho um amiguinho na escolinha que não acredita nem em Deus e muito menos nos anjos. - Mas Deus existe e você sabe disso não é? – Perguntei. - Deus existe, e os anjos também – retrucou. - Quando a gente morre, vira anjo e vai para o Céu, não é?- É exatamente isso o que acontece – respondi. Ele ficou contente e satisfeito com minha simples explicação, porém, fiquei a refletir sobre suas últimas palavras: - Quando a gente morre, vira anjo e vai para o Céu. No nosso cotidiano, é comum ouvir as pessoas por algum motivo suspirar que “Deus é Pai”! Imagine o Reino Celeste, com todos os seus sagrados prazeres, os “anjinhos” como súditos, e, Deus a comandá-los. Somente o Pai dos Pais para conseguir dominá-los e mantê-los “anjinhos”. Nesse Céu singular, com certeza, encontraríamos anjinhos tímidos e extrovertidos, carrancudos e sorridentes, sérios e fanfarrões, quietos e traquinas, cultos e analfabetos, ricos e pobres, brancos e negros. - Anjos negros? Será que anjo tem etnia? Certamente, existirão os anjinhos líderes, que gostam de bancar os superiores. - Vocês já imaginaram o trabalho de Deus Pai para controlar esse heterogêneo exército angelical? - É Deus é Pai – pensei. Imagine um anjinho dizendo prá Deus Pai que algum brincalhão escondeu sua auréola, e, ele não consegue encontrá-la em lugar algum. Outro reclama que, enquanto dormia, alguém pegou algumas das mais belas penas das suas asas, e, que agora não consegue alçar um voozinho sequer! – Tenha dó né Deus! – exclama contrariado. Chega outro, todo atrapalhado e espirrando, porque, no passeio matinal, passara por uma gélida nuvem e acabara pegando um resfriado.
Fico me perguntando como será o comportamento dos anjinhos, que na terra se chamavam Joãozinho – Deus é Pai – pensei novamente. Dando asas à fantasia, acompanho Deus Pai numa de suas visitas aos infindáveis alojamentos dos anjinhos. Esqueci de observar se ele ainda conserva suas longas e alvas barbas. – Será que ainda as tem? Bondoso que é, e rico em magnitude, vai passando por cada alojamento, e abençoando cada anjinho. Todos dormem um “sono angelical”. Basta, porém, que Deus Pai “vire as costas”, para que num passe de mágica, todos acordem do sono “profundo”, numa algazarra festiva.
Onipotente, Onisciente e Onipresente que é Deus Pai ouve o alarido vindo dos alojamentos, onde segundos atrás reinava absoluto silêncio. Não se incomoda. - Acaso, não são os anjinhos seus auxiliares diretos nas tarefas celestiais? – Não foi ele mesmo que disse: - Deixai vir a mim os pequeninos, porque deles é o Reino dos Céus?
Volto à realidade do nosso dia a dia, para refletir sobre a atitude de muitos pais, com quase nenhuma paciência, quase nenhum diálogo, quase nenhuma palavra de carinho, quase nenhum gesto de amor e afeição para com os seus filhos, enquanto que Deus Pai faz tudo isso e, muito mais conosco, desde a criação dos Céus e da Terra.
Que tal meditarmos sobre essa questão, e, tentarmos imitar Deus Pai?