A MÃO E A MÃE


 
          Meu filho veio após o trabalho e fez o meu IR.
          Fiquei deitada olhando ele, e sentindo tanto amor...


           Mas os filhos não gostam que a mãe sinta amor por eles, penso que eles talvez achem ou sintam que isto  os reduz à condição de criança.
            E o amor que sinto por eles é o mesmo amor de quando tinham meses, poucos anos ou muitos anos. 

          E acrescento a admiração atual, adultos que são.

                                   É um tanto triste ser mãe.

                        Os filhos nunca serão amigos da mãe.
                        E amigos é a melhor coisa do mundo.
                        Eles só conseguem me ver como mãe.

                               Mas eu, em relação a minha mãe e meu pai eu os amava como pais, mas desde muito cedo eu os vi como as pessoas que eram. E os compreendia e respeitava pelas suas qualidades. 
 Tive papos em adulta com cada um deles e era muito interessante.


      Agora IR é preenchido pela internet e fica pronto na hora. E não sei internet.
          O programa já calcula e registra o que vai ser devolvido.
          Deste ano 2010 vou ter devolução de C$ 70,00.
          E no ano anterior, em que declarei por escrito no “tipo simplificado”
          Tive restituição de mais de R$ 3.000,00.
 Coisa que vai dar espaço para os corruptos criarem uma declaração
    Com um cálculo embutindo “Laranjas”, tal que a devolução será bem maior.

          Calculado tudo ele avisa que está tudo pronto. E me abismei.
          Mas eu não tava nem aí para o IR
          Estava era adorando ver meu filho trabalhar e me ignorando ali perto.

                                    Isto é um diálogo silencioso.

                                           Ou um monólogo
                                           Ou um solilóquio.
                        O que importava era o prazer da presença dele.
 
          Eu tinha servido um pequeno lanche pra ele na mesa do computador
          E ele levantou levando a bandejinha para a cozinha.
          Fui atrás e nós dois conversando, sentei à mesa na sala.
          E ele na pia da cozinha, lavava as louças com aquela elegância que é seu charme.
 
          Veio se despedir de mim. Eu agradeci pelo trabalho todo dele.

                                E ele pegou a minha mão dizendo:
                                Que mão lisinha e acrescentando
                                        Macia, tão lisinha!
                                   E meu coração se acalmou.

          Meu sentimento de mãe tomou-o no colo como se tivesse 

          Um ano ou cinco, ou dez ou... Qualquer idade.