A impunidade é como o câncer
Como dizem alguns homens de bem, a impunidade é uma espécie de câncer na sociedade. E, como profissional da saúde, não podemos deixar de concordar. Pois, como não poderia deixar de ser, o câncer - como patologia - é como uma anarquia que, por influência de elementos externos ou por heranças genéticas, se estabelece no interior de uma célula, já que ao invés dela produzir outra exatamente igual a si mesma, como prediz a lei da harmonia, cria uma célula alterada que aos poucos, também, reproduz outra e outras que, assim, vai alterando seu ambiente até levá-lo à morte, quando não ocorre uma intervenção adequada e eficaz.
A sociedade, não diferentes dos organismos - dos corpos devidamente organizados, com funções e objetivos específicos - também produz, por anomalia, seus "cânceres". Seus elementos estranhos aos seus organismos, às suas gentes, que, pelo caráter de suas naturezas alteradas, como parasitas, tentam destruir o próprio corpo que constitui, sem a consciência que estão por conseqüência, também, estabelecendo suas próprias mortes no futuro.
Ainda bem que, pela Graça, temos mais células saudáveis do que doentias. Esta é uma divina lei da Natureza e se assim não fosse já não existiríamos.
E, também, obedecendo às leis naturais, como todo corpo organizado que luta por sua própria sobrevivência, a sociedade, aos poucos, lentamente, vai criando seus anticorpos, combatendo as mais diferentes síndromes, frutos da anarquia.
Uma nova consciência vai nascendo. Uma nova ordem social surgirá!
Por hora, o que vemos é um corpo doente, quase convalescendo.
A lei, pela ação da Justiça, deveria ser o remédio, a cirurgia. A intervenção, a hospitalização, o isolamento. Mas, em nosso país, por enquanto, os remédios são paliativos ou simples placebos, já que os "grandes tumores" estão mesmo localizados na sua região central, mais exatamente em seu cérebro, lá em Brasília.
Nos membros, nas comunidades, o que vemos são só os sintomas. E, em nós, o que sentimos são os efeitos, as dores, as perdas.
Quando a doença tocar o cérebro ele despertará, pois haverá, também, de querer sobreviver.
Vamos torcer, ainda que consternado, que seu despertar não seja tardio e que o corpo todo possa sobreviver!
José Paulo Ferrari
# Professor e psicólogo, especializado em psicooncologia, pelo Hospital do Câncer A.C. Camargo.