Brasília existe e tudo passa
Todas as noites ligo a televisão para assistir a realidade através do tubo de imagem. Começa com morte na estrada. A morte na estrada jamais vem associada com carteira de motorista ou departamento de trânsito. (Carteiras caríssimas. Todos encarteirados pelo departamento de trânsito) Passa o enfoque. Crimes com drogas ao sabor das minorias criminosas drogadas. Passa. Crime sem drogas. Sufocam as primeiras causas causando certo drama inquietante na certeza que desejamos possuir das coisas através da imprensa. Diabos, as drogas não são culpadas de tudo! Passa.
Corrupção de cima a baixo. Passa. De baixo para cima. Passa. Gente jogada no lixo chama atenção quando é bebê. Passa. Gente abandonada e sem rumo no mundo quase nunca tem importância e é como se não existissem. Passa. O abandono letal do indivíduo na multidão, passa. (Tragédias coletivas acabam doendo menos do que as particulares). Passa. Agora é a vez do Jornal Internacional. Explodem bombas nos territórios de conflito. Gente que pensa de um único modo produz xenofobia nos lugares de sempre. Passa.
Hora dos esportes. A vida parece perfeita. São milhares de gols, jogadores olhando para o céu em êxtase profético, criaturas aleijadas produzidas pelos exercícios forçados, qual nada. Passa bonito.
Uma semana passou, duas e pouquíssima coisa sobre Brasília, Congresso Nacional, bastidores, cafézinhos e voos internacionais. Passa tudo sem que possamos compreender, examinar, estudar. Leis são levadas do executivo para o legislativo e tudo passa. Desligo a televisão e pronto. Brasil é a televisão da novela.
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