Memórias
As vezes, conversando com meu eu, olhando o passado, vendo o presente, antevendo o futuro, percebo que dou a impressão de que mudei.
De que perdi a preocupação e a solidariedade para com os demais.
Nem sempre as impressões que temos, que passamos como verdadeiras, são verdadeiras.
Sou hoje o que as recordações do que fui no passado me fizeram.
Sou as recordações que ainda carrego.
Sei quanto é difícil assumir que erramos.
Mas, certamente, em minha memória, vez ou outra, vem a sensação de que podia ter feito alguma coisa diferente do que fiz.
Se tivesse feito, talvez tivesse feito melhor.
Talvez acertasse mais.
Ou, talvez, errasse menos.
Dai que, mais uma vez, talvez, às vezes, imagino, que passo a impressão, que mudou minha forma de avaliar o mundo.
Diria que o mundo continua seguindo seu curso normal.
Girando.
Movendo-se.
Mudando.
Continua mudando.
Eu o imito.
Também em mim mudou muita coisa, não só no tempo.
Continuo relacionando situações e fatos.
Continuo avaliando.
Envelhecendo.
Mudando.
Talvez hoje veja o mundo com a miopia da idade, ou talvez veja o mundo com os elementos de análise que a lente de aumento da vida me proporcionou.
Pode ser que hoje use lente para ver melhor o mundo e que estas lentes vez ou outra precisem ser substituídas por outras mais adequadas.
Mas por traz das lentes que às vezes preciso usar estão os mesmo olhos que um dia brilharam com sonhos.
Com sonhos de dias melhores para todo nosso povo.
Por traz destas mesmas lentes estão os mesmos olhos que a opacidade do tempo permitiu ver que dias melhores precisam ser dados a todos do planeta.
Olhos que se sentem traídos pelo hoje, mas que continuam brilhando quando se lembram do sonho do céu cheio de estrelas iluminando as noites wue vivi no passado e que sonhei mudar.
Talvez o mundo tenha dado mais voltas do que fui capaz de perceber e tenha me deixado tonto.
Talvez eu tenha desejado que o mundo parasse e apenas eu girasse ou désse voltas.
Sei apenas que fiquei tonto.
Mas isto seria negar minha história, a dialética, a razão.